Fonte: UNCG Special Collections and University Archives
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
Desafio de Leitura 2017
A proposta é do blog Além do Livro, e o Desafio de Leitura, para Nádia Tamanaha: "A ideia do Desafio de Leitura é sair da zona de conforto e ampliar os horizontes literários. Por isso, eu sempre preencho cada categoria com um livro diferente, assim, são mais chances de ler algo novo e/ou diferente. No entanto, se você achar pesado, pode aproveitar uma leitura só para preencher um ou mais quesitos – por exemplo, A Sangue Frio é um livro de não ficção e que foi escrito por um autor que já morreu. Afinal, apesar de ser um desafio, queremos que seja divertido e prazeroso, e não mais uma cobrança!"
Segue a lista de categorias do Desafio de Leitura 2017, e neste link você encontra a planilha que pode usar para preencher as categorias. Vamos participar do desafio???
Segue a lista de categorias do Desafio de Leitura 2017, e neste link você encontra a planilha que pode usar para preencher as categorias. Vamos participar do desafio???
Um livro publicado em 2017 |
Um clássico |
Um livro de fantasia |
Um livro de humor |
Um livro de suspense/thriller |
Um livro de não-ficção |
Uma graphic novel |
Um livro que contenha ilustrações |
Um livro de terror |
Um livro considerado cult |
Um livro ambientado no passado distante |
Um livro apocalíptico |
Um livro que contenha um assassinato |
Um livro vencedor do Prêmio Pulitzer |
Um livro polêmico |
Um livro subestimado |
Um livro mind fucking |
Um livro chocante |
Um livro que te surpreendeu |
Um livro que te decepcionou |
Um livro que fez você chorar |
Um livro que contenha uma história de amor marcante |
Um livro recomendado por um amigo |
Um livro que você ainda não leu, mas já assistiu à adaptação |
Um livro que você gostaria que virasse filme ou série |
Um livro que contenha um personagem que você gostaria de ser |
Um livro com protagonista criança |
Um livro com uma história que você gostaria de viver |
Um livro que você gostaria de ter escrito |
Um livro que te inspira |
Um livro que você gostaria que todos lessem |
Um livro que você pensou em abandonar |
Um livro que você gostaria de “desler” |
Um livro que te dê vontade de viajar |
Um livro para dar de presente |
Um livro para ler antes de dormir |
Um livro para ler em um dia |
Uma releitura |
Um livro com resenhas negativas |
Um livro que todo mundo gostou, menos você |
Um livro que você escolheu pela capa |
Um livro que você escolheu pelo título |
Um livro cujo título não condiz com a história |
Um livro cujo título tenha mais de 5 palavras |
Um livro com mais de 500 páginas |
Um livro cujo título seja um ou mais nomes próprios |
Um livro de um autor que você nunca tenha lido |
Um livro assinado por um pseudônimo |
Um livro escrito por dois autores |
Um livro de um autor que já morreu |
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
Top 5 melhores livros que viraram filmes em 2016
Do mundo da
Literatura para as telas do cinema! Veja livros que se transformaram
em filmes.
Melhores livros que
viraram filme (por Luiza Ramalho - Especialista em Livros e Música)
Existem livros que
as histórias são tão boas que acabam virando filme. Aqui no Zoom,
selecionamos os cinco melhores livros que foram parar nas telonas do
cinema em 2016. Olha só:
5. Como Eu Era Antes
de Você - Moyes, Jojo
A jovem Louisa é
garçonete em um café e namora Patrick, um triatleta que não
demonstra muitos sentimentos por ela. Quando o café fecha as portas,
Louisa vai trabalhar como cuidadora de um tetraplégico, o Will. Ele
é rico, inteligente, porém mal-humorado: depois de sofrer acidente
de moto, Will passou a ser amargo perante a vida. No entanto, é
Louisa a responsável por dar um novo sentido à vida de Will. Só
que nenhum dos dois desconfia como um pode transformar a vida do
outro.
4. A Garota no Trem
-Paula Hawkins
Um dos melhores
livros que viraram filme, e que fizeram bastante sucesso, foi A
Garota no Trem. Rachel viaja de trem todos os dias, e a paisagem do
percurso ela já conhece bem, como uma casa número 15 e o casal que
vive nela. Um dia, Rachel observa uma cena chocante, mas o trem segue
viagem. O tempo passa e Rachel descobre que Megan está desaparecida,
então vai à polícia dizer o que testemunhou. Com esse relato,
Rachel passa a se envolver em vários acontecimentos, em uma história
com bastante suspense.
3. O Orfanato Da
Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares - Ransom Riggs
Chegamos a um livro
que virou filme de Tim Burton, uma obra cheia de fantasia e
suspenses. O livro por si só já é uma obra bem rica, com
fotografias que fazem o leitor mergulhar ainda mais fundo na sua
história. Nele, Jacob tem uma tragédia familiar e chega a uma ilha
distante. Nessa ilha, encontra as ruínas de um orfanato e resolve
explorar o local abandonado. Mas será que as crianças eram
perigosas? Para quem curte histórias de mistérios, aqui está um
dos melhores livros.
2. Alice Através do
Espelho e o Que Ela Encontrou Por Lá
Alice - Aventuras de
Alice no País das Maravilhas & Através Espelho e o que Alice
Encontrou Por Lá - Carroll , Lewis -
O filme Alice
Através do Espelho é uma sequência do filme Alice no País das
Maravilhas, de 2010. E nesse novo filme, de 2016, também vemos
estrelas do filme anterior, como Johnny Depp interpretando o
Chapeleiro Maluco. E para quem quer ir além do filme, este livro é
uma edição especial de um clássico da Literatura, que conta a
história de Alice, a menina que entra em uma toca, atrás de um
coelho, e acaba caindo em um mundo repleto de fantasias.
1. O Regresso
-Michael Punke
Com o filme O
Regresso, Leonardo DiCaprio conquistou o Oscar em 2016, como o
protagonista que lutou bravamente pela vida. No livro, considerado
por nós o melhor desta lista que preparamos, você vai conhecer os
caçadores que exploraram terras inóspitas, enfrentando o clima,
animais selvagens e os índios, que defendiam suas terras. Em uma
dessas expedições, Hugh é atacado por um urso, e é abandonado
pelos outros homens. Uma história que fala sobre vingança e a luta
pela sobrevivência.
Fonte: Zoom
Seção Resenha de Livros: MUCKER - FANÁTICOS OU VÍTIMAS?
Olá.
Aqui
é o Rafael novamente, em mais uma colaboração para o blog da Biblioteca
Pública.
Há
algum tempo, neste blog, estou resenhando mídias ligadas à Revolta dos Mucker
(1868 – 1874), um episódio da história da imigração alemã ao Estado que ainda
queima os neurônios dos pesquisadores: hoje, não há dúvida que houve mais
interesses em jogo do que simplesmente eliminar uma suposta corrente cristã
sacrílega liderada por um suposto curandeiro charlatão e uma suposta mulher frágil
e louca que afirmava ser encarnação de Cristo...
Bem.
Quando comecei o rosário falando sobre o livro Os Fanáticos de Jacobina, de Fidélis Dalcin Barbosa, prometi que
traria aos leitores algumas obras que trouxessem uma “segunda versão” da que
ele narrou. E hoje cumpro o prometido: o livro de hoje nos traz a “segunda
versão”. Ironicamente, pela mesma editora.
Eis
aqui, então, MUCKER – FANÁTICOS OU VÍTIMAS?, de Antônio Mesquita Galvão e Vilma
Guerra da Rocha.
AS CONVICÇÕES DE UM HISTORIADOR
Caso
vocês venham a ler as postagens anteriores, podem ver o quanto o pensamento
deste autor mudou ao longo do tempo, desde que fiz referência à “guerra santa”
de Jacobina Maurer na resenha do citado livro de Fidélis Barbosa. O quanto o
conhecimento aumentou sobre o episódio de Sapiranga. Bem... nem preciso me dar
ao trabalho de resumir de novo o que foi a Revolta dos Mucker, não? Se até o
“s” no fim de “muckers” eu eliminei, já que aprendi que o termo correto é no
singular, que, na língua alemã, também designa o plural. “Muckers” é termo
“abrasileirado”.
E
também aprendi que o termo “mucker” não tem o significado que lhe foi
consagrado. Não significa “fanático” nem “falso santo”; vem do verbo mucken (incomodar) e significa
“incomodado”, “reclamante”, “contestador”, “descontente”, “raivoso”,
“vingativo”, “teimoso”, “casmurro”. Foram os sucessores de um cronista
religioso de origem alemã que propagaram esse significado. Já volto a essa
parte.
Quem
disse isso foram os autores de MUCKER – FANÁTICOS OU VÍTIMAS?. Um dos primeiros
livros que contestam a “versão oficial” de então sobre a revolta.
OS CONTESTADORES
MUCKER
– FANÁTICOS OU VÍTIMAS? foi publicado em 1996, pela editora EST, de Porto
Alegre – a mesma que publicou Os
Fanáticos de Jacobina. Desde 1996, portanto, a visão histórica a respeito
dos mucker nunca mais foi a mesma. Se antes víamos a Revolta dos Mucker como
uma batalha contra uma seita sacrílega inimiga da ordem, hoje vemos a seita de
Jacobina como uma forma de protesto contra as injustas condições de vida dos
colonos alemães estabelecidos ao pé do Morro do Ferrabraz, em Sapiranga, então
distrito de São Leopoldo. Graças ao presente livro que, à parte do projeto de
capa simplório, é uma rica fonte de informação até para quem é leigo em
História.
Mas
é preciso falar a respeito de seus autores, claro.
A
começar por Antônio Mesquita Galvão, nascido em Porto Alegre em 1942;
aposentado da Caixa Econômica Federal; escritor veterano (publica livros desde
1981); autor de mais de 110 livros, com edições no Brasil e no exterior; que
também colabora para jornais, revistas e portais de circulação nacional e
internacional escrevendo artigos; ex-professor universitário; especialista em
bioética, teologia, filosofia; que fala 5 idiomas; que ministra cursos de
desinibição e comunicação; que anima círculos bíblicos em Canoas, RS, onde
reside com a esposa, Carmen Silva Galvão; enfim, um extenso currículo.
Já
sobre a co-autora, Vilma Guerra da Rocha, não consegui levantar maiores
informações sobre o que faz na atualidade. Na época da publicação do livro,
Vilma Rocha era pós-graduanda em História do Rio Grande do Sul na UCPel
(Universidade Católica de Pelotas), e já havia escrito uma dissertação a
respeito dos mucker. Ela também tem um livro de poemas, Eu... Você... Eternidade, publicado pela Gráfica Livraria Mundial
de Pelotas, em 1993.
Foi
na ocasião do lançamento do livro que nasceu o projeto conjunto: conforme narra
na introdução do livro, Antônio Galvão já era conhecido de Vilma Rocha – ela
foi colega de aula da esposa do escritor e professora de uma das filhas dele.
Em 1993, então, os dois se encontraram na ocasião do lançamento do livro de
poesias de Vilma, e, visto que tinham o mesmo interesse pelo episódio, deram
origem ao projeto conjunto sobre os mucker, que veio à tona em 1996, na forma
do livro MUCKER – FANÁTICOS OU VÍTIMAS?.
E,
em 1996, a situação era outra em Sapiranga. Conforme os autores relatam, na ocasião,
a cruz que indicava o suposto local da morte de Jacobina Maurer não estava só
abandonada como também havia caído devido à ação dos cupins e dos pica-paus.
Apenas o monumento ao Coronel Sampaio, o “herói” da Revolta dos Mucker,
apresentava um razoável estado de conservação. E nada do poder público da época
fazer algo a respeito, apesar de os próprios autores terem escrito cartas à
Prefeitura de Sapiranga.
A
situação mudou, supomos, apenas em 2002, na época das gravações do filme A Paixão de Jacobina – e, certamente,
nem os autores, Galvão e Rocha, devem ter gostado da visão dos fatos
apresentada no filme. Mas uma nova cruz foi erguida no local, e hoje é local de
visitação turística, e faz parte do roteiro conhecido como Caminhos de
Jacobina. O morro do Ferrabraz, por sua vez, ainda é ponto para praticantes de
asa-delta. E Sapiranga ainda é a “Cidade das Rosas”.
A ORIGEM DAS RECLAMAÇÕES
OK.
O que sabemos a respeito dos muckers, até os anos 1990, era fruto de uma visão
preconceituosa de religião, em voga no início do século XIX.
A “culpa”
pela demonização da imagem dos mucker foi do padre jesuíta alemão Ambrósio
Schupp (1840 – 1914). Ele veio ao Brasil em outubro de 1874, pouco depois do
fim do conflito mucker (ocorrido em agosto do mesmo ano), e, pegando relatos
orais ainda em clima de animosidades contra os “fanáticos”, escreveu, em 1900,
o livro Die Mucker – Eine erzählung aus
dem leben der deustchen kolonien brasiliens inder gegenwart (Os Mucker –
Uma narrativa da vida das colônias alemãs no Brasil na atualidade). O livro,
publicado em Paderborn, Alemanha, e portanto redigido em alemão, foi traduzido
para o português em 1904, por Alfredo Clemente Pinto. Foi Schupp quem pintou os
mucker como sendo fanáticos e violentos, mas não sem má intenção – lembrem-se:
Schupp era católico, chegou ao Brasil quando a poeira ainda não havia baixado,
e acabou pegando o zeitgeist
(espírito do tempo) da época. E, no século XIX, não havia tanta tolerância
religiosa. A religião oficial do Estado era o catolicismo, e religiões
protestantes eram apenas toleradas, desde que não construíssem templos. Melhor
nem pensar quanto ao islamismo, ao judaísmo e às religiões de origem
africana...
Schupp
serviu-se, para escrever seu relato, de fontes orais vindas de pessoas que na
época conviveram com os mucker, mas todas do lado contrário ao de Jacobina
Maurer e seus seguidores – entre estas, o Inspetor João Lehn, o opositor Felipe
Sehn, o Delegado de Polícia de São Leopoldo, Lúcio Schreiner, e o Subdelegado
Christiano Spindler. E, claro, estes lançaram os boatos a respeito do que
acontecia nas reuniões na casa do curandeiro João Jorge Maurer (o “charlatão”)
e sua esposa Jacobina (a “louca e analfabeta”): uso de ervas alucinógenas,
bênçãos com beijos, trocas de casais, orgias e até cenas de canibalismo. E,
claro, que os mucker foram, gratuitamente, autores de muitos crimes contra a
propriedade, como assassinatos e queimas de casas.
E,
claro, foi Clemente Pinto quem cunhou, em sua tradução, o significado do termo
mucker como “fanático”.
De
todo modo, por falta de mais fontes, e por conta da reserva a qual os
descendentes dos personagens da História tratam do assunto – as gerações mais
jovens é que passaram a sentir orgulho, ao invés de vergonha, de saberem-se
descendentes de mucker – o livro de Schupp se tornou a obra dogmática para
falar a respeito do episódio do Ferrabraz, tal como Os Sertões, de Euclides da Cunha, se tornou referência primeira
sobre a Guerra de Canudos. Obras posteriores seguiram a mesma linha de
raciocínio do padre, já que a análise de seu livro, de todo modo, é obrigatória
a quem se aventurar no episódio do Ferrabraz. O difícil, claro, é encontrar um
exemplar, nos dias de hoje, de Os Mucker.
Quando
escreveu Os Fanáticos de Jacobina, em
1970, Fidélis Barbosa seguiu a linha de Schupp – praticamente, decalcou a obra
do padre quando publicou sua versão da história, em capítulos, no jornal Correio Riograndense, e depois em livro,
pela mesma editora EST. Os cineastas
Jorge Bodanzky e Wolf Gauer, quando produziram o filme Os Mucker, em 1978, seguiram linha idêntica ao texto de Schupp. Nem
mesmo Luiz Antônio de Assis Brasil, em seu romance Videiras de Cristal, de 1990, escapou: a narrativa romanceada
também segue a linha do livro de Schupp.
Ainda
foram lançadas outras obras focando o episódio. Mas nenhuma se afastando da
linha de raciocínio de Schupp. E assim foi... até 1996.
A NOVA VERSÃO
O
livro de Galvão e Rocha é até curto – 112 páginas, sem contar capa – e dividido
em três partes com dois capítulos cada. E se propõe não apenas a ser uma
narrativa diferente a respeito dos mucker, como também um pequeno curso de
História, visando também ao público que não é da área.
Em
1996, estava em curso uma nova maneira de ensino e redação da História, através
do revisionismo crítico que se contrapunha à visão então em voga durante o
Regime Militar Brasileiro (1964 – 1985). Principalmente no que diz respeito às
Revoltas Populares lideradas pelos chamados beatos subversivos: Galvão e Rocha
aproveitam e também fazem um paralelo entre a Revolta dos Mucker e a Guerra de
Canudos, a Guerra do Contestado e outras... que até então foram ensinadas, nas
escolas, como lutas contra gente desordeira e perturbadora da ordem vigente.
Bem,
hoje sabemos que não é assim: Canudos e Contestado hoje são vistas como
revoltas de gente que viu nos líderes religiosos apenas uma saída para a
situação de miséria que viviam, em geral por conta dos interesses dos donos do
poder da época. Mas os historiadores, em geral a serviço dos “donos do poder”,
pintaram para as novas gerações a imagem demonizada de líderes como Antônio
Conselheiro, do Monge João Maria... e de Jacobina Maurer.
E
Galvão e Rocha, nos primeiros capítulos da obra, também oferecem ao leitor
algumas reflexões a respeito da atividade do historiador: em grande parte das vezes,
a História foi escrita pelo lado “vencedor” das revoltas populares, em geral os
representantes do poder de sua época, e é natural que estes acabem fazendo uma
má imagem do lado “perdedor”. E, vocês sabem: o lado “vencedor” é o que garante
a perpetuação de um status quo, por mais injusto que ele seja para a maioria
das pessoas, apenas em benefício de uns poucos.
A
estrutura do livro de Galvão e Rocha é meio caótica, o texto construído com os
tópicos em uma ordem aleatória, sem o sequenciamento adequado que se espera de
uma obra desse feitio. Do breve resumo sobre a imigração alemã no Rio Grande do
Sul, para caracterizar o cenário e a época, os autores fazem as reflexões sobre
a relação entre História e poder; depois, falam a respeito das revoltas dos beatos
subversivos, falando, na ordem, de: Cabanagem, Sabinada e Balaiada; Canudos;
Mucker; Contestado e Fundão. E daí, parte para um completo relato sobre os
Mucker. Tudo isso apenas na primeira parte, A
Tese.
Na
segunda, A Antítese, e na terceira, A Síntese, os autores já começam a
desmontar, na base da suposição em cima dos relatos oficiais e extraoficiais, e
com ajuda de fontes auxiliares, o que se sabia até agora a respeito dos mucker
– e começam a responder a pergunta expressa no título do livro.
Uma
análise da época da história permite antever que havia muito mais interesses
por parte das autoridades de São Leopoldo do que acabar com uma seita de
fanáticos. Havia uma disputa entre pastores protestantes (como a que houve
entre o pastor Boeber, o principal inimigo dos mucker, e o pastor Klein, o
“mentor intelectual” da seita mucker) e padres católicos pela influência
religiosa na região; havia uma disputa por terras no morro do Ferrabraz, entre
grandes proprietários e colonos – as terras ao sopé do Ferrabraz eram mais
férteis que as das colônias próximas, de modo que os grandes proprietários
começaram a dificultar a vida dos colonos para se apossar desses pedaços de
terra; havia uma disputa de poder, portanto, de todas as partes, que via a
seita mucker como um foco de subversão a ser controlado.
A
imagem dos personagens principais da história também tem suas imagens
desmontadas. João Jorge Maurer, por exemplo: na versão oficial, seria um
curandeiro charlatão a abusar da boa fé das pessoas; na nova versão, seria na
realidade um pacifista, cujo único propósito de vida era ajudar pessoas com
seus conhecimentos das ervas medicinais da região (conhecimento supostamente
adquirido do religioso Ludwig Buchhorn) – e sua saída da seita não teria sido
um ato de covardia após sua esposa tê-lo “trocado” por Rodolfo Sehn (aliás: o
suposto “segundo marido” de Jacobina Maurer é mesmo Rodolfo Sehn, e não João
Klein, conforme Fidélis Barbosa escreveu).
Jacobina
Maurer, por sua vez, não seria a santarrona devassa que Schupp descreveu:
suposições feitas por Galvão e Rocha permitem afirmar que ela tinha moral mais
firme e mais “conservadora” (as regras da seita, sabe-se, proibiam a bebida, o
fumo e o comparecimento a festas), e que a suposta troca de casais e os
divórcios motivados por Jacobina seriam apenas boatos. Logo, seu suposto
segundo casamento com Rodolfo Sehn teria sido um boato de seus opositores. Doente,
até poderia ter sido – segundo o médico que a tratava, o Dr. Hillebrandt, o
casamento com João Maurer teria sido, antes de tudo, uma solução para suas
crises de desmaios e letargias. Mas Jacobina teria sim, de certa maneira,
acertado nas três “previsões” do futuro que teria feito.
Nem
mesmo a “cidadela” construída pelos mucker seria como foi descrita por Schupp:
na verdade, era apenas o galpão onde os fieis de reuniam nos cultos.
O
que feria no orgulho dos líderes religiosos da região seria o fato de uma
mulher supostamente semianalfabeta fazer livre interpretação da Bíblia e atrair
mais gente para a seita do que eles para as suas congregações. Mas nem eram
tantas famílias assim que compareciam nos cultos – estima-se que sejam pelo
menos 300 pessoas de 40 famílias. E o que feria no orgulho das forças
representantes da ordem da região – o Inspetor João Lehn, o Delegado Schreiner
e o Subdelegado Spindler – era mesmo a suspeita de a seita ter mesmo um fundo
subversivo, uma resposta dos colonos à disputa das terras do Ferrabraz; talvez
por isso é que eles fossem chamados de mucker, levando em conta a etimologia
explicada acima. Também havia nesses homens uma preocupação de fundo político –
eles queriam “mostrar serviço” às autoridades de Porto Alegre, o que poderia
garantir-lhes promoções de cargos. Até mesmo a conduta desses homens é
questionada – possivelmente, João Lehn fosse mesmo amante da mucker Elizabeth
Carolina Mentz, cunhada de Jacobina.
Os
crimes supostamente cometidos pelos mucker não podem ser gratuitamente
atribuídos a eles. Os mucker poderiam, sim, ter se voltado para a violência
como resposta ao tratamento que eles sofriam em seu meio – agressões, boicotes
por conta dos mercadores (que estavam negando vender produtos aos membros da
seita), prisões (como as de João Maurer, de Jacobina, de Jacó das Mulas e
outros membros da seita que tiveram seus nomes registrados), pressão das
autoridades policiais. Mas os assassinatos, queimas de casas de colonos (como a
da família Kassel) e o atentado contra a vida de João Lehn, atribuídos aos
mucker, poderiam ter sido causados, na verdade, por outras pessoas, em rixas
pessoais, mas sabedoras de que, com o preconceito girando em torno da seita de
Jacobina, a culpa pelos crimes cairia sobre os mucker. Em alguns casos, havia
interesses pessoais em jogo na disputa entre “ímpios” e mucker – como no caso
do assassinato de Jorge Haubert, filho de criação do mucker Jorge Robinson, o
Ruivo, cuja tutela estava sendo disputada entre este e o alfaiate Guilherme
Closs. Haubert teria sido assassinado por Robinson por ter traído a seita, mas
há suspeita que apenas a culpa teria caído sobre o mucker – Haubert teria sido
assassinado por outrem, talvez por Closs, segundo os autores supõem.
Houve,
também uma “ajudinha” da imprensa da época, representada pelas folhas
partidárias e religiosas em circulação na época, dirigidas ao público de língua
alemã, para demonizar os mucker.
O
resto vocês já devem saber: devido ao clima de intranquilidade da colônia, as
autoridades pedem o auxílio do exército, e os mucker foram aniquilados em três
expedições militares. Na primeira, em 20 de julho de 1874, a casa dos Maurer
foi destruída, mas Jacobina e seguidores sobreviventes fugiram para a mata, e o
líder da expedição, Coronel Genuíno Sampaio, quando já cantava vitória, morreu
devido às complicações do ferimento causado por um tiro na nádega (não foi na
coxa?), supostamente acidental; a segunda, sob liderança do Tenente-Coronel
Augusto César da Silva, no dia 21 de julho, foi emboscada na mata; só a
terceira, liderada pelo Major Francisco Santiago Dantas, em 2 de agosto,
conseguiu acabar com Jacobina e os mucker ali escondidos – outros teriam sido
caçados até o início do século XX. Mas alguns fatos nessa parte também são
contestados, como a suposta morte da filha mais nova de Jacobina, Leidard, que
teria sido degolada pela mãe para que seu choro não denunciasse o esconderijo
dos mucker na mata.
Com
isso tudo, a resposta dada por Galvão e Rocha é que os mucker teriam, na
verdade, sido mais vítimas do que fanáticos. Vítimas das disputas de poder de
sua época, os quais tiveram o azar de acabarem envolvidos; vítimas de autoridades
opressivas; vítimas de preconceitos contra uma corrente diferente de religião.
Quanto ao fanatismo, ainda existem controvérsias. Não sei dizer, no momento, a
quantas anda a historiografia a respeito dos mucker depois de 1996 – até o
momento, só consultei obras anteriores aos anos 2000, e alguns artigos mais
atualizados referentes ao romance de Assis Brasil. Mas, ao menos, a minha visão
sobre os mucker já deu uma guinada.
MUCKER
– FANÁTICOS OU VÍTIMAS? tem por vantagem adicional ser um livro de linguagem
acessível até para quem não é da área da História, com didatismo, conceitos
explicados, comparações de fontes, visando ao público leigo. Galvão e Rocha
pensaram em seus leitores. Mas há de se dar algum desconto para o tom
depreciativo que eles deram a alguns autores consultados – OK, o livro de
Fidélis Barbosa não é uma fonte 100% confiável, mas precisavam se referir a
ele, em tom de menosprezo, apenas como um “ex-seminarista capuchinho”? Talvez
devessem também investigar a obra dele...
De
todo modo, nos dias atuais, não se pode falar a respeito dos mucker sem
consultar esse livro. MUCKER – FANÁTICOS OU VÍTIMAS?, já um pequeno clássico da
história crítica do Brasil. Aquela que não de dobra ante o “vencedor”; a que
tenta dar ao povo menos favorecido o seu lugar. Porém, com o cuidado de não
promover uma inversão de valores ou a revolta contra grupos, numa visão
maniqueísta reversa, características que alimentam o discurso raivoso e a
deturpação de ideias nas redes sociais. Vocês devem ter me entendido.
Esta
postagem é uma versão revista e com alterações do texto publicado anteriormente
no blog Estúdio Rafelipe (https://estudiorafelipe.blogspot.com.br/).
Aproveitem e conheçam.
Se
quiseres saber sobre um determinado assunto, não se limite a apenas um livro:
consulte vários sobre o tema. E a Biblioteca oferece vários livros aos
interessados sobre diversos temas. Em caso de dúvidas, pergunte a uma das
bibliotecárias.
Em
breve, nova Seção Resenha de Livros aos que acompanham este blog.
Até
mais!
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
domingo, 18 de dezembro de 2016
Seção Resenha de Cinema: A PAIXÃO DE JACOBINA
Olá.
Aqui
é o Rafael novamente, em nova colaboração para o blog da Biblioteca Pública.
Hoje,
volto a falar de filme – esta é a Seção Resenha de Cinema, falando de
adaptações de livros para a Sétima Arte.
Volto
a falar da Revolta dos Mucker. Volto a falar de Jacobina Maurer. E hoje vou
falar do produto mais “comercial” a respeito do conflito messiânico da zona de
imigração alemã do Rio Grande do Sul do século XIX.
Anteriormente,
falei a respeito do livro Videiras de
Cristal, de Luiz Antônio de Assis Brasil, a recriação ficcional em livro
mais famosa do conflito. Hoje, então, resenho a adaptação cinematográfica do
livro, A PAIXÃO DE JACOBINA. Ou melhor, adaptação, nem tanto adaptação: o filme
de fato foi mais inspirado no livro
do que adaptado do livro. Já explico.
Para
começar, A PAIXÃO DE JACOBINA, filme brasileiro lançado em 2002, foi dirigido
por Fábio Barreto, diretor que se consagrou com O Quatrilho (1995),
adaptação do romance do escritor gaúcho José Clemente Pozenato, que até concorreu ao Oscar de melhor
filme estrangeiro. Barreto também é conhecido pelos filmes Luzia-Homem (1988), Bela
Donna (1997), Nossa Senhora do
Caravaggio (2007) e Lula – O Filho do
Brasil (2009). Desde dezembro de 2009, após sofrer um grave acidente de
carro, Barreto não dirige mais filmes. Após uma delicada cirurgia, em janeiro
de 2010, está em casa, em tratamento.
O
roteiro de A PAIXÃO DE JACOBINA é de Leopoldo Serran. E seu elenco é
basicamente composto de atores consagrados, “globais”.
Antes
de A PAIXÃO DE JACOBINA, a Revolta dos Mucker (1868 – 1874), o qual nem me
darei ao trabalho de refrescar a memória dos leitores, havia sido retratada,
nos cinemas, no filme Os Mucker (1978),
de Jorge Bodanzky e Wolf Gauer. E, visualmente, A PAIXÃO DE JACOBINA tem muito
jeito de ser um filme mais palatável ao público que seu antecessor. O filme de
2002 tem mais recursos que o de 1978: mais claridade, imagens mais nítidas, músicas
de fundo, efeitos especiais, interpretações em linguagem mais novelesca e até
uma inserção de merchandising. Além disso, enquanto o filme de 1978 foi gravado
no estado de São Paulo, as locações do filme de 2002 são mais próximas do local
dos acontecimentos: o filme foi gravado em Sapiranga e outros municípios do
Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul. As locações do filme, hoje, fazem parte
do roteiro turístico da cidade de Sapiranga.
Porém,
é menos fiel à realidade histórica: os diálogos são todos em português (enquanto
o filme de 1978 tinha diálogos alternando entre português e alemão hunsrückisch) e há deturpação dos fatos
até mesmo em relação ao livro-fonte. Até mesmo uma inserção de uma trama
romântica onde não havia.
Bão.
O filme de Fábio Barreto também procura retratar a líder messiânica Jacobina
Maurer (interpretada por Letícia Spiller), desta vez com um recorte de tempo
maior: ela é mostrada rapidamente na infância, depois na adolescência, e no
fim, na vida adulta. Antes e depois de se tornar a “Mutter” dos colonos alemães
abandonados pelo poder público da época, antes e depois de dizer-se encarnação
de Cristo na Terra, antes e depois de se tornar profetiza. Claro que essa vida
é mostrada com um pouco de “trapaça” e deturpação.
A
deturpação começa através do personagem Franz (Thiago Lacerda). Esse personagem
não existiu nem na vida real, nem no livro de Assis Brasil – ele é cunhado de
Jacobina, mas tem outro nome. Bem: nas cenas iniciais do filme, Jacobina
demonstra, de um modo mal disfarçado, que é apaixonada por Franz, no dia do
casamento deste. Porém, ambos os personagens vivem em tensão amorosa. Em uma
cena, Franz flagra Jacobina tomando banho de cachoeira, e, mesmo sendo ambos
casados, ambos tem um flerte ali mesmo, na piscina natural. Em crise de
consciência, Jacobina dá o fora em Franz e segue sua vida. Mais tarde, Franz
volta à vida de Jacobina quando ela já era considerada santa pela população
local, e o casal vive em um vai e vem até Franz se juntar em definitivo à
seita, conduzindo ao tradicional final dramático. Nada disso consta no livro.
Voltemos
a Jacobina Maurer, antes Mentz. Bem, a personagem tem o seu caráter divino
reforçado pelo roteiro do filme. No início do filme, ela é mostrada ainda na
infância, com a mãe e os irmãos, fugindo da Guerra dos Farrapos; as crianças
tem fome, mas a mãe impede-as de comerem de uma panela de feijão abandonada nas
ruínas de uma casa, em uma tentativa de reforçar nelas o caráter de honestidade
e de força nas adversidades (essa parte, sim, consta no livro). Em vários
momentos, ela sofre desmaios e crises de sono letárgico, mas nessas crises ela
tem ouve a voz de Deus falando com ela. E, nessas crises, ela tem o
acompanhamento do médico Dr. Hillebrandt (Werner Schünemann). Foi após a
primeira crise de desmaio, no momento em que a família bate uma fotografia na
cerimônia de casamento de Franz, que Jacobina conhece o marido, João Maurer
(Alexandre Paternost), então curandeiro – e que, inesperadamente, após a
consulta, se declara a ela. Os dois se casam, e Jacobina ajuda João Maurer no
tratamento de pacientes – enquanto vive a tensão amorosa com Franz – em casa,
ao pé do morro do Ferrabraz. Foi após o parto da única filha (na vida real,
Jacobina Maurer teve seis filhos) que Jacobina começa a “ouvir” a voz de Deus.
Outro
personagem que vive em tensão constante com Jacobina, mas desta vez no campo
das ideias, é o pastor Boeber (Antonio Calloni), que antes ouvia as confissões
de Jacobina, porém, depois, a excomunga de sua comunidade e passa à oposição
dos chamados mucker. E a maquete da igreja a qual o pastor passa boa parte do
livro construindo, e que no romance tem um caráter simbólico (ela representa um
projeto de comunidade religiosa da vida do pastor), aparece no filme, mas sem
grande importância. No livro, a maquete inacabada acaba sendo destruída junto
com a morte de Boeber; no filme, nem um nem outro morrem.
Bem.
Pouco depois, Jacobina resolve assumir seu caráter de representante de Deus na
Terra, despindo-se frente a um crucifixo cheio de luzes, depois realizando
milagres junto aos pacientes do marido (se é que podemos chamar de milagre ela
ter beijado os ferimentos da perna de um homem e este ter largado as muletas de
repente) e, com trechos da Bíblia, confortando-os com palavras. Nesse ponto,
ela passa a trajar apenas uma camisola branca; depois, ela é coroada com uma
coroa de flores pelos fieis. Jacobina começa a juntar fieis em torno de si,
pregando a Bíblia e o fim do mundo, e abençoando os fiéis com... beijos na
boca. Entre os fiéis, entre familiares e simples gente que teve de vender suas
propriedades ao governo, estão o parvo Jacó Mula (Leon Góes) e o violento
Robinson (Felipe Kannenberg). Inicialmente frequentando os cultos, estava o
mercador Nadler (Zé Victor Castiel) que, depois, escandalizado com o
comportamento de Jacobina, retira-se da seita.
A seita
já começa a arranjar opositores logo no início. Fica evidente na cena em que
Jacó Mula, ao defender Jacobina no mercado de Nadler, é agredido por homens
violentos. Esses mesmos homens matam, mais tarde, um seguidor da seita e seus
cavalos. Depois, um dos agressores é morto e enforcado por homens mascarados,
supostos mucker; e só aí é que a atenção das autoridades é despertada. A lei é
representada pelo delegado João Lehn (Caco Ciocler), tendo como aliados o Dr.
Hillebrandt e o Pastor Boeber. E, inicialmente aliado a estes, Franz.
Aliás,
Lehn vive uma tensão amorosa (mais ou menos como no livro) com a mucker
Elizabeth Carolina (Talita Castro) – mas, no filme, tal relação tem menos
arrogância por parte do homem.
A
tensão entre os mucker e os “ímpios” aumenta a cada instante. O mercador Nadler
é encontrado morto dias depois de negar vender produtos a uma mulher mucker;
depois, um membro da seita é encontrado morto de forma violenta. Jacobina até
consegue fazer chover (literalmente) durante seu enterro.
Já não
é mais possível manter as pregações de não-violência – a gota d’água é quando
as autoridades conduzem Jacobina à justiça. Estando em crise de sono letárgico,
ela é conduzida de carroça, deitada, a São Leopoldo, e sentenciada a ser
internada na Santa Casa de Porto Alegre para se tratar do suposto distúrbio
mental – e acaba tendo a cabeça raspada. E de cabeça raspada ela permanece até
o fim do filme. Um fato astronômico previsto por Jacobina acaba dando mais
força a ela e aos mucker: um meteoro cruza o céu no dia de Pentecostes (não
consta no livro!). Após o retorno ao Ferrabraz, o discurso pacífico de Jacobina
muda, e os mucker passam a perseguir os “ímpios” do mesmo modo que foram
perseguidos. Fica evidente que a luta dos muckers, antes de tudo, é contra o
sistema social injusto, ainda que pessoas inocentes também acabem pagando.
A
gota d’água foi o atentado à vida de João Lehn: foi determinante para que as
autoridades chamem o exército imperial, sob o comando do coronel Genuíno
(Felipe Camargo) para combater os mucker.
E,
nas cenas finais, há mais afastamento da realidade: na vida real, foram
necessárias três expedições para dar fim aos mucker, e na segunda, o Coronel
Genuíno morre acidentalmente, e Jacobina consegue escapar para o mato; no
filme, foram necessários dois ataques, no segundo o “templo” de Jacobina acaba
destruído, ela perece no fogo junto com Franz, e Genuíno não morre. Barreto e
Serran trapacearam!
Well.
O filme teve bilheteria razoável – só no Rio Grande do Sul foram 95 mil
espectadores, segundo informações colhidas da internet – e teve apoio tanto de
uma boa parte técnica, uma cenografia que capta bem as belezas da região do
Vale dos Sinos, uma boa reconstituição dos cenários de época – e apenas dos
cenários!
Mas
as interpretações do filme geram algumas controvérsias.
Letícia
Spiller como Jacobina, por exemplo. Para caracterizar a personagem, ela contou,
inclusive, com o uso de perucas. E ela passa a maior parte do tempo olhando
para o vazio, expressão distante, numa tentativa de reforçar a suposta
deficiência mental de Jacobina Maurer (de acordo com as descrições dos
historiadores). Sua interpretação, de um modo geral, é um tanto exagerada, bem
de personagem de novela – e a presença de Franz só reforça a pieguice. E pensar
que a ideia inicial do diretor Fábio Barreto era que a modelo gaúcha Gisele
Bündchen interpretasse Jacobina Maurer...
Isso
faz com que o título do filme adquira dois sentidos: “paixão”, tanto no
significado do amor romântico entre Jacobina e Franz, como no sentido divino, o
martírio da personagem próximo ao sofrido por Jesus Cristo.
Foi
muito criticada a cena em que ela anda pelos campos, cercada de borboletas
criadas digitalmente. O melhor efeito especial do filme ainda é a passagem do
meteoro.
Já
Alexandre Paternost, como João Maurer, praticamente expressa perfeitamente a
insignificância que o personagem assume ao longo da história, simplesmente
“desaparecendo” durante o filme. Afinal, como concorrer com a mulher beata e um
rival galã?
Outros
personagens do livro perdem empatia com relação a suas contrapartes do filme. É
o caso de Jacó Mula, que no filme parece um débil mental (no livro nem é tanto
assim), sempre soprando seus apitos e falando com dificuldade; e de Elizabeth
Carolina, cuja tensão amorosa e crise de consciência ficam em segundo plano em
todo filme. As atenções ficam voltadas, logo, para Jacobina, eliminando as
histórias paralelas que enriqueciam o enredo. Tudo para a história caber em
seus 103 minutos.
O
roteiro de Serran corta também alguns personagens do livro, como o médico
Christian Fischer, que estabelece uma relação de cumplicidade com Jacó Mula
(ficou de fora até a trama supérflua em torno dos cactos que Fischer recolhe
para remeter a um tio da Alemanha, o que foi um acerto de Barreto e Serran), o
piedoso padre católico Matias Münsch, a criada e confidente de Jacobina, Ana
Maria Hoffstätter, e o militar Santiago Dantas, responsável pelo ataque final.
Desse modo, podemos reforçar que o filme foi mais inspirado por Videiras de
Cristal que adaptado do romance.
Como
se não bastasse, conseguiram inserir no filme um merchandising da fábrica de
calçados Azaléia, que patrocinou o filme. É na cena em que uma personagem passa
em um sapateiro. Jeitinho brasileiro é isso aí.
A direção
do filme também foi muito criticada – ficou aquém de O Quatrilho, que até concorreu ao Oscar!
Ainda
assim, A PAIXÃO DE JACOBINA é mais palatável ao público que Os Mucker. Cumpriu sua função, que era a
de apresentar ao público brasileiro as paisagens de Sapiranga. Porque, na parte
da História, não foi lá essas coisas... A História, aqui, ficou no “padrão
Globo” (representada por sua filial, a RBS), já que até atores “globais” o
filme teve. Ah, mas se o próprio Luiz Antônio de Assis Brasil confessou, no
posfácio de Videiras de Cristal, que
não teve o compromisso de seguir os fatos reais em sua reconstituição da
história de Jacobina Maurer, por que não também Barreto e Serran? Assim, todos
estão redimidos.
Ah:
até o momento em que escrevo, A PAIXÃO DE JACOBINA está disponível, completo,
no YouTube, para quem quiser conferir (assista aqui: https://www.youtube.com/watch?v=zLel0siiLdY).
Mas, sendo filme mais recente, é fácil encontrá-lo também em DVD.
Esta
postagem é uma versão revisada e com alterações do texto publicado
anteriormente no blog Estúdio Rafelipe (https://estudiorafelipe.blogspot.com.br/).
Aproveitem e conheçam.
Os
livros ainda são a melhor fonte para se conhecer a História: “trapaceiam” menos
que o cinema. Portanto: visitem a Biblioteca Pública Theobaldo Paim Borges. Em
caso de dúvidas se o livro que procura está disponível ou não, peça auxílio às
bibliotecárias. Doações também são bem-vindas.
Até
mais!
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