Olá.
Aqui
é o Rafael novamente, em mais uma colaboração para o blog da Biblioteca
Pública.
Há
algum tempo, neste blog, estou resenhando mídias ligadas à Revolta dos Mucker
(1868 – 1874), um episódio da história da imigração alemã ao Estado que ainda
queima os neurônios dos pesquisadores: hoje, não há dúvida que houve mais
interesses em jogo do que simplesmente eliminar uma suposta corrente cristã
sacrílega liderada por um suposto curandeiro charlatão e uma suposta mulher frágil
e louca que afirmava ser encarnação de Cristo...
Bem.
Quando comecei o rosário falando sobre o livro Os Fanáticos de Jacobina, de Fidélis Dalcin Barbosa, prometi que
traria aos leitores algumas obras que trouxessem uma “segunda versão” da que
ele narrou. E hoje cumpro o prometido: o livro de hoje nos traz a “segunda
versão”. Ironicamente, pela mesma editora.
Eis
aqui, então, MUCKER – FANÁTICOS OU VÍTIMAS?, de Antônio Mesquita Galvão e Vilma
Guerra da Rocha.
AS CONVICÇÕES DE UM HISTORIADOR
Caso
vocês venham a ler as postagens anteriores, podem ver o quanto o pensamento
deste autor mudou ao longo do tempo, desde que fiz referência à “guerra santa”
de Jacobina Maurer na resenha do citado livro de Fidélis Barbosa. O quanto o
conhecimento aumentou sobre o episódio de Sapiranga. Bem... nem preciso me dar
ao trabalho de resumir de novo o que foi a Revolta dos Mucker, não? Se até o
“s” no fim de “muckers” eu eliminei, já que aprendi que o termo correto é no
singular, que, na língua alemã, também designa o plural. “Muckers” é termo
“abrasileirado”.
E
também aprendi que o termo “mucker” não tem o significado que lhe foi
consagrado. Não significa “fanático” nem “falso santo”; vem do verbo mucken (incomodar) e significa
“incomodado”, “reclamante”, “contestador”, “descontente”, “raivoso”,
“vingativo”, “teimoso”, “casmurro”. Foram os sucessores de um cronista
religioso de origem alemã que propagaram esse significado. Já volto a essa
parte.
Quem
disse isso foram os autores de MUCKER – FANÁTICOS OU VÍTIMAS?. Um dos primeiros
livros que contestam a “versão oficial” de então sobre a revolta.
OS CONTESTADORES
MUCKER
– FANÁTICOS OU VÍTIMAS? foi publicado em 1996, pela editora EST, de Porto
Alegre – a mesma que publicou Os
Fanáticos de Jacobina. Desde 1996, portanto, a visão histórica a respeito
dos mucker nunca mais foi a mesma. Se antes víamos a Revolta dos Mucker como
uma batalha contra uma seita sacrílega inimiga da ordem, hoje vemos a seita de
Jacobina como uma forma de protesto contra as injustas condições de vida dos
colonos alemães estabelecidos ao pé do Morro do Ferrabraz, em Sapiranga, então
distrito de São Leopoldo. Graças ao presente livro que, à parte do projeto de
capa simplório, é uma rica fonte de informação até para quem é leigo em
História.
Mas
é preciso falar a respeito de seus autores, claro.
A
começar por Antônio Mesquita Galvão, nascido em Porto Alegre em 1942;
aposentado da Caixa Econômica Federal; escritor veterano (publica livros desde
1981); autor de mais de 110 livros, com edições no Brasil e no exterior; que
também colabora para jornais, revistas e portais de circulação nacional e
internacional escrevendo artigos; ex-professor universitário; especialista em
bioética, teologia, filosofia; que fala 5 idiomas; que ministra cursos de
desinibição e comunicação; que anima círculos bíblicos em Canoas, RS, onde
reside com a esposa, Carmen Silva Galvão; enfim, um extenso currículo.
Já
sobre a co-autora, Vilma Guerra da Rocha, não consegui levantar maiores
informações sobre o que faz na atualidade. Na época da publicação do livro,
Vilma Rocha era pós-graduanda em História do Rio Grande do Sul na UCPel
(Universidade Católica de Pelotas), e já havia escrito uma dissertação a
respeito dos mucker. Ela também tem um livro de poemas, Eu... Você... Eternidade, publicado pela Gráfica Livraria Mundial
de Pelotas, em 1993.
Foi
na ocasião do lançamento do livro que nasceu o projeto conjunto: conforme narra
na introdução do livro, Antônio Galvão já era conhecido de Vilma Rocha – ela
foi colega de aula da esposa do escritor e professora de uma das filhas dele.
Em 1993, então, os dois se encontraram na ocasião do lançamento do livro de
poesias de Vilma, e, visto que tinham o mesmo interesse pelo episódio, deram
origem ao projeto conjunto sobre os mucker, que veio à tona em 1996, na forma
do livro MUCKER – FANÁTICOS OU VÍTIMAS?.
E,
em 1996, a situação era outra em Sapiranga. Conforme os autores relatam, na ocasião,
a cruz que indicava o suposto local da morte de Jacobina Maurer não estava só
abandonada como também havia caído devido à ação dos cupins e dos pica-paus.
Apenas o monumento ao Coronel Sampaio, o “herói” da Revolta dos Mucker,
apresentava um razoável estado de conservação. E nada do poder público da época
fazer algo a respeito, apesar de os próprios autores terem escrito cartas à
Prefeitura de Sapiranga.
A
situação mudou, supomos, apenas em 2002, na época das gravações do filme A Paixão de Jacobina – e, certamente,
nem os autores, Galvão e Rocha, devem ter gostado da visão dos fatos
apresentada no filme. Mas uma nova cruz foi erguida no local, e hoje é local de
visitação turística, e faz parte do roteiro conhecido como Caminhos de
Jacobina. O morro do Ferrabraz, por sua vez, ainda é ponto para praticantes de
asa-delta. E Sapiranga ainda é a “Cidade das Rosas”.
A ORIGEM DAS RECLAMAÇÕES
OK.
O que sabemos a respeito dos muckers, até os anos 1990, era fruto de uma visão
preconceituosa de religião, em voga no início do século XIX.
A “culpa”
pela demonização da imagem dos mucker foi do padre jesuíta alemão Ambrósio
Schupp (1840 – 1914). Ele veio ao Brasil em outubro de 1874, pouco depois do
fim do conflito mucker (ocorrido em agosto do mesmo ano), e, pegando relatos
orais ainda em clima de animosidades contra os “fanáticos”, escreveu, em 1900,
o livro Die Mucker – Eine erzählung aus
dem leben der deustchen kolonien brasiliens inder gegenwart (Os Mucker –
Uma narrativa da vida das colônias alemãs no Brasil na atualidade). O livro,
publicado em Paderborn, Alemanha, e portanto redigido em alemão, foi traduzido
para o português em 1904, por Alfredo Clemente Pinto. Foi Schupp quem pintou os
mucker como sendo fanáticos e violentos, mas não sem má intenção – lembrem-se:
Schupp era católico, chegou ao Brasil quando a poeira ainda não havia baixado,
e acabou pegando o zeitgeist
(espírito do tempo) da época. E, no século XIX, não havia tanta tolerância
religiosa. A religião oficial do Estado era o catolicismo, e religiões
protestantes eram apenas toleradas, desde que não construíssem templos. Melhor
nem pensar quanto ao islamismo, ao judaísmo e às religiões de origem
africana...
Schupp
serviu-se, para escrever seu relato, de fontes orais vindas de pessoas que na
época conviveram com os mucker, mas todas do lado contrário ao de Jacobina
Maurer e seus seguidores – entre estas, o Inspetor João Lehn, o opositor Felipe
Sehn, o Delegado de Polícia de São Leopoldo, Lúcio Schreiner, e o Subdelegado
Christiano Spindler. E, claro, estes lançaram os boatos a respeito do que
acontecia nas reuniões na casa do curandeiro João Jorge Maurer (o “charlatão”)
e sua esposa Jacobina (a “louca e analfabeta”): uso de ervas alucinógenas,
bênçãos com beijos, trocas de casais, orgias e até cenas de canibalismo. E,
claro, que os mucker foram, gratuitamente, autores de muitos crimes contra a
propriedade, como assassinatos e queimas de casas.
E,
claro, foi Clemente Pinto quem cunhou, em sua tradução, o significado do termo
mucker como “fanático”.
De
todo modo, por falta de mais fontes, e por conta da reserva a qual os
descendentes dos personagens da História tratam do assunto – as gerações mais
jovens é que passaram a sentir orgulho, ao invés de vergonha, de saberem-se
descendentes de mucker – o livro de Schupp se tornou a obra dogmática para
falar a respeito do episódio do Ferrabraz, tal como Os Sertões, de Euclides da Cunha, se tornou referência primeira
sobre a Guerra de Canudos. Obras posteriores seguiram a mesma linha de
raciocínio do padre, já que a análise de seu livro, de todo modo, é obrigatória
a quem se aventurar no episódio do Ferrabraz. O difícil, claro, é encontrar um
exemplar, nos dias de hoje, de Os Mucker.
Quando
escreveu Os Fanáticos de Jacobina, em
1970, Fidélis Barbosa seguiu a linha de Schupp – praticamente, decalcou a obra
do padre quando publicou sua versão da história, em capítulos, no jornal Correio Riograndense, e depois em livro,
pela mesma editora EST. Os cineastas
Jorge Bodanzky e Wolf Gauer, quando produziram o filme Os Mucker, em 1978, seguiram linha idêntica ao texto de Schupp. Nem
mesmo Luiz Antônio de Assis Brasil, em seu romance Videiras de Cristal, de 1990, escapou: a narrativa romanceada
também segue a linha do livro de Schupp.
Ainda
foram lançadas outras obras focando o episódio. Mas nenhuma se afastando da
linha de raciocínio de Schupp. E assim foi... até 1996.
A NOVA VERSÃO
O
livro de Galvão e Rocha é até curto – 112 páginas, sem contar capa – e dividido
em três partes com dois capítulos cada. E se propõe não apenas a ser uma
narrativa diferente a respeito dos mucker, como também um pequeno curso de
História, visando também ao público que não é da área.
Em
1996, estava em curso uma nova maneira de ensino e redação da História, através
do revisionismo crítico que se contrapunha à visão então em voga durante o
Regime Militar Brasileiro (1964 – 1985). Principalmente no que diz respeito às
Revoltas Populares lideradas pelos chamados beatos subversivos: Galvão e Rocha
aproveitam e também fazem um paralelo entre a Revolta dos Mucker e a Guerra de
Canudos, a Guerra do Contestado e outras... que até então foram ensinadas, nas
escolas, como lutas contra gente desordeira e perturbadora da ordem vigente.
Bem,
hoje sabemos que não é assim: Canudos e Contestado hoje são vistas como
revoltas de gente que viu nos líderes religiosos apenas uma saída para a
situação de miséria que viviam, em geral por conta dos interesses dos donos do
poder da época. Mas os historiadores, em geral a serviço dos “donos do poder”,
pintaram para as novas gerações a imagem demonizada de líderes como Antônio
Conselheiro, do Monge João Maria... e de Jacobina Maurer.
E
Galvão e Rocha, nos primeiros capítulos da obra, também oferecem ao leitor
algumas reflexões a respeito da atividade do historiador: em grande parte das vezes,
a História foi escrita pelo lado “vencedor” das revoltas populares, em geral os
representantes do poder de sua época, e é natural que estes acabem fazendo uma
má imagem do lado “perdedor”. E, vocês sabem: o lado “vencedor” é o que garante
a perpetuação de um status quo, por mais injusto que ele seja para a maioria
das pessoas, apenas em benefício de uns poucos.
A
estrutura do livro de Galvão e Rocha é meio caótica, o texto construído com os
tópicos em uma ordem aleatória, sem o sequenciamento adequado que se espera de
uma obra desse feitio. Do breve resumo sobre a imigração alemã no Rio Grande do
Sul, para caracterizar o cenário e a época, os autores fazem as reflexões sobre
a relação entre História e poder; depois, falam a respeito das revoltas dos beatos
subversivos, falando, na ordem, de: Cabanagem, Sabinada e Balaiada; Canudos;
Mucker; Contestado e Fundão. E daí, parte para um completo relato sobre os
Mucker. Tudo isso apenas na primeira parte, A
Tese.
Na
segunda, A Antítese, e na terceira, A Síntese, os autores já começam a
desmontar, na base da suposição em cima dos relatos oficiais e extraoficiais, e
com ajuda de fontes auxiliares, o que se sabia até agora a respeito dos mucker
– e começam a responder a pergunta expressa no título do livro.
Uma
análise da época da história permite antever que havia muito mais interesses
por parte das autoridades de São Leopoldo do que acabar com uma seita de
fanáticos. Havia uma disputa entre pastores protestantes (como a que houve
entre o pastor Boeber, o principal inimigo dos mucker, e o pastor Klein, o
“mentor intelectual” da seita mucker) e padres católicos pela influência
religiosa na região; havia uma disputa por terras no morro do Ferrabraz, entre
grandes proprietários e colonos – as terras ao sopé do Ferrabraz eram mais
férteis que as das colônias próximas, de modo que os grandes proprietários
começaram a dificultar a vida dos colonos para se apossar desses pedaços de
terra; havia uma disputa de poder, portanto, de todas as partes, que via a
seita mucker como um foco de subversão a ser controlado.
A
imagem dos personagens principais da história também tem suas imagens
desmontadas. João Jorge Maurer, por exemplo: na versão oficial, seria um
curandeiro charlatão a abusar da boa fé das pessoas; na nova versão, seria na
realidade um pacifista, cujo único propósito de vida era ajudar pessoas com
seus conhecimentos das ervas medicinais da região (conhecimento supostamente
adquirido do religioso Ludwig Buchhorn) – e sua saída da seita não teria sido
um ato de covardia após sua esposa tê-lo “trocado” por Rodolfo Sehn (aliás: o
suposto “segundo marido” de Jacobina Maurer é mesmo Rodolfo Sehn, e não João
Klein, conforme Fidélis Barbosa escreveu).
Jacobina
Maurer, por sua vez, não seria a santarrona devassa que Schupp descreveu:
suposições feitas por Galvão e Rocha permitem afirmar que ela tinha moral mais
firme e mais “conservadora” (as regras da seita, sabe-se, proibiam a bebida, o
fumo e o comparecimento a festas), e que a suposta troca de casais e os
divórcios motivados por Jacobina seriam apenas boatos. Logo, seu suposto
segundo casamento com Rodolfo Sehn teria sido um boato de seus opositores. Doente,
até poderia ter sido – segundo o médico que a tratava, o Dr. Hillebrandt, o
casamento com João Maurer teria sido, antes de tudo, uma solução para suas
crises de desmaios e letargias. Mas Jacobina teria sim, de certa maneira,
acertado nas três “previsões” do futuro que teria feito.
Nem
mesmo a “cidadela” construída pelos mucker seria como foi descrita por Schupp:
na verdade, era apenas o galpão onde os fieis de reuniam nos cultos.
O
que feria no orgulho dos líderes religiosos da região seria o fato de uma
mulher supostamente semianalfabeta fazer livre interpretação da Bíblia e atrair
mais gente para a seita do que eles para as suas congregações. Mas nem eram
tantas famílias assim que compareciam nos cultos – estima-se que sejam pelo
menos 300 pessoas de 40 famílias. E o que feria no orgulho das forças
representantes da ordem da região – o Inspetor João Lehn, o Delegado Schreiner
e o Subdelegado Spindler – era mesmo a suspeita de a seita ter mesmo um fundo
subversivo, uma resposta dos colonos à disputa das terras do Ferrabraz; talvez
por isso é que eles fossem chamados de mucker, levando em conta a etimologia
explicada acima. Também havia nesses homens uma preocupação de fundo político –
eles queriam “mostrar serviço” às autoridades de Porto Alegre, o que poderia
garantir-lhes promoções de cargos. Até mesmo a conduta desses homens é
questionada – possivelmente, João Lehn fosse mesmo amante da mucker Elizabeth
Carolina Mentz, cunhada de Jacobina.
Os
crimes supostamente cometidos pelos mucker não podem ser gratuitamente
atribuídos a eles. Os mucker poderiam, sim, ter se voltado para a violência
como resposta ao tratamento que eles sofriam em seu meio – agressões, boicotes
por conta dos mercadores (que estavam negando vender produtos aos membros da
seita), prisões (como as de João Maurer, de Jacobina, de Jacó das Mulas e
outros membros da seita que tiveram seus nomes registrados), pressão das
autoridades policiais. Mas os assassinatos, queimas de casas de colonos (como a
da família Kassel) e o atentado contra a vida de João Lehn, atribuídos aos
mucker, poderiam ter sido causados, na verdade, por outras pessoas, em rixas
pessoais, mas sabedoras de que, com o preconceito girando em torno da seita de
Jacobina, a culpa pelos crimes cairia sobre os mucker. Em alguns casos, havia
interesses pessoais em jogo na disputa entre “ímpios” e mucker – como no caso
do assassinato de Jorge Haubert, filho de criação do mucker Jorge Robinson, o
Ruivo, cuja tutela estava sendo disputada entre este e o alfaiate Guilherme
Closs. Haubert teria sido assassinado por Robinson por ter traído a seita, mas
há suspeita que apenas a culpa teria caído sobre o mucker – Haubert teria sido
assassinado por outrem, talvez por Closs, segundo os autores supõem.
Houve,
também uma “ajudinha” da imprensa da época, representada pelas folhas
partidárias e religiosas em circulação na época, dirigidas ao público de língua
alemã, para demonizar os mucker.
O
resto vocês já devem saber: devido ao clima de intranquilidade da colônia, as
autoridades pedem o auxílio do exército, e os mucker foram aniquilados em três
expedições militares. Na primeira, em 20 de julho de 1874, a casa dos Maurer
foi destruída, mas Jacobina e seguidores sobreviventes fugiram para a mata, e o
líder da expedição, Coronel Genuíno Sampaio, quando já cantava vitória, morreu
devido às complicações do ferimento causado por um tiro na nádega (não foi na
coxa?), supostamente acidental; a segunda, sob liderança do Tenente-Coronel
Augusto César da Silva, no dia 21 de julho, foi emboscada na mata; só a
terceira, liderada pelo Major Francisco Santiago Dantas, em 2 de agosto,
conseguiu acabar com Jacobina e os mucker ali escondidos – outros teriam sido
caçados até o início do século XX. Mas alguns fatos nessa parte também são
contestados, como a suposta morte da filha mais nova de Jacobina, Leidard, que
teria sido degolada pela mãe para que seu choro não denunciasse o esconderijo
dos mucker na mata.
Com
isso tudo, a resposta dada por Galvão e Rocha é que os mucker teriam, na
verdade, sido mais vítimas do que fanáticos. Vítimas das disputas de poder de
sua época, os quais tiveram o azar de acabarem envolvidos; vítimas de autoridades
opressivas; vítimas de preconceitos contra uma corrente diferente de religião.
Quanto ao fanatismo, ainda existem controvérsias. Não sei dizer, no momento, a
quantas anda a historiografia a respeito dos mucker depois de 1996 – até o
momento, só consultei obras anteriores aos anos 2000, e alguns artigos mais
atualizados referentes ao romance de Assis Brasil. Mas, ao menos, a minha visão
sobre os mucker já deu uma guinada.
MUCKER
– FANÁTICOS OU VÍTIMAS? tem por vantagem adicional ser um livro de linguagem
acessível até para quem não é da área da História, com didatismo, conceitos
explicados, comparações de fontes, visando ao público leigo. Galvão e Rocha
pensaram em seus leitores. Mas há de se dar algum desconto para o tom
depreciativo que eles deram a alguns autores consultados – OK, o livro de
Fidélis Barbosa não é uma fonte 100% confiável, mas precisavam se referir a
ele, em tom de menosprezo, apenas como um “ex-seminarista capuchinho”? Talvez
devessem também investigar a obra dele...
De
todo modo, nos dias atuais, não se pode falar a respeito dos mucker sem
consultar esse livro. MUCKER – FANÁTICOS OU VÍTIMAS?, já um pequeno clássico da
história crítica do Brasil. Aquela que não de dobra ante o “vencedor”; a que
tenta dar ao povo menos favorecido o seu lugar. Porém, com o cuidado de não
promover uma inversão de valores ou a revolta contra grupos, numa visão
maniqueísta reversa, características que alimentam o discurso raivoso e a
deturpação de ideias nas redes sociais. Vocês devem ter me entendido.
Esta
postagem é uma versão revista e com alterações do texto publicado anteriormente
no blog Estúdio Rafelipe (https://estudiorafelipe.blogspot.com.br/).
Aproveitem e conheçam.
Se
quiseres saber sobre um determinado assunto, não se limite a apenas um livro:
consulte vários sobre o tema. E a Biblioteca oferece vários livros aos
interessados sobre diversos temas. Em caso de dúvidas, pergunte a uma das
bibliotecárias.
Em
breve, nova Seção Resenha de Livros aos que acompanham este blog.
Até
mais!
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