1.
Sabemos
que suas obras de literatura infanto-juvenil no Brasil tem excelente
receptividade. A partir de sua experiência como escritor, como aumentar o
número de leitores dessa área?
Nossa! São tantas
coisas que podem ser feitas! Feira do Livro, com preparação prévia, trabalho
continuado, projetos de leitura são sempre um coroamento para o trabalho. Mas
isso só funciona mesmo em longo prazo. Acredito que o trabalho de formação do
leitor envolve o poder público (as escolas), a Biblioteca Pública e as
famílias. Envolver os pais nas atividades de promoção de leitura é garantir
também uma relação afetuosa para a leitura... “Pais que contam e leem para seus
filhos, filhos que contam e leem para seus pais”. Isso poderia ser um lindo
projeto. Já vi acontecer em vários lugares! Não ficar centrado só na leitura de
livros. A leitura envolve tudo: teatro, música, dança, artes visuais, ópera,
circo, cinema, vídeo, etc. Associar as propostas de leitura literária com
outras linguagens artísticas também são um caminho promissor. Fazer “rodas de
leitura”, discussão de um texto curto, na hora, discussão de um filme... ah,
são tantas coisas. Mas é preciso pensar com carinho no leitor, para que ele tenha
opção de escolhas também: essa coisa de uma única leitura obrigatória (por
bimestre, quase sempre) na escola é ruim. É preciso apresentar um “leque” de
opções pensando na diversidade dos alunos...
2.
Como você
se tornou escritor e um contador de histórias tão cativante?
Me tornei primeiro um contador de histórias: foi a formação em teatro
que me levou a ser um contador de histórias (mas na minha família as minhas
avós são grandes exemplos... a
convivência com elas, na casa delas, com os primos, a infância cheia de aventuras e as histórias de vida delas também foram sempre inspiradoras).
convivência com elas, na casa delas, com os primos, a infância cheia de aventuras e as histórias de vida delas também foram sempre inspiradoras).
Comecei a escrever pensando nos meus alunos. Eu era professor de
literatura de crianças do jardim de infância à 4ª série, numa escola no Rio de
Janeiro. E foi para esses alunos, que comecei a escrever as minhas primeiras
histórias: para contar para eles, na Biblioteca da Escola. Depois disso, não
parei mais de escrever. Um dia, estava eu num evento para professores contando
histórias e um editor me viu, veio conversar comigo, soube que eu tinha uns
textos guardados, pediu para ler e foi assim que saiu o meu primeiro livro “Ver
de ver meu pai”, ilustrado pelo Roger Mello e publicado pela editora Nova
Fronteira.
3.
Como você
constrói o contexto para suas histórias e de que modo surgem os personagens?
As histórias nascem da vida ao redor. E da vida que a gente guarda na
memória também. Às vezes surgem de uma reportagem que vejo na TV e que fica
martelando na minha cabeça. Às vezes, a letra de uma música me faz escrever uma
história. Às vezes um fato que aconteceu comigo lá na infância é o ponto de
partida da história. Mas também preciso dizer que não tenho nenhum compromisso
com o que aconteceu de verdade comigo, isto é, muita coisa não aconteceu mesmo
e eu invento! O mais importante pra mim é esse exercício da linguagem e da
fantasia. A maneira como vou escrever e o quê de novo meu texto vai trazer. Os
personagens nascem de observar gente que conheço, ou de imagina alguém ideal
para viver aquela história que estou contanto. Não é necessariamente alguém que
exista de verdade. Pode ser a mistura de muita gente. Ou pode ser totalmente
inventado. É assim pra mim...
4.
Das obras
que escreveu, tem alguma que é sua favorita? Por quê?
Ah... difícil dizer isso! Tenho várias favoritas. “Ver de ver meu pai”,
que foi o primeiro. “Mãe África”, que nasceu de uma longa pesquisa no universo
das histórias africanas, e que me fez conhecer e mergulhar cada vez mais fundo
nessas historias populares. O livro “Diáfana”, que me deu 2 prêmios importantes
(o prêmio Açorianos de 2011 de Livro do Ano e o Prêmio Açorianos de 2011 de
Melhor Livro Infantil)...São tantos... Se eu ficar pensando, cada um dos 81 que
já publiquei será importante por um motivo!
5.
Que
orientações daria para quem quisesse ser contador de histórias?
Celso Sisto
Porto Alegre, 03 de outubro de 2016.