sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Seção Resenha de Livros: CÃES DA PROVÍNCIA

Olá.
Aqui é o Rafael de novo, em nova colaboração para o blog da Biblioteca Pública.
Por esses dias, bateu um súbito e louco interesse por um assunto histórico um tanto mórbido. Até o presente momento, já resenhei dois livros a respeito dos crimes da Rua do Arvoredo, ou caso da Linguiça Humana, ocorrida em Porto Alegre, entre 1863 e 1864.
Pues, hoje, vou resenhar mais um livro ligado à temática. Desta vez, é um romance. De um dos maiores escritores do Rio Grande do Sul do século XX – ou pelo menos, onde sua reputação ficou.
Hoje, então, falarei de CÃES DA PROVÍNCIA, de Luiz Antonio Assis Brasil.

O REDATOR
Antes de falar do livro, propriamente dito, é justo, como sempre faço, que antes eu fale do autor – no caso, Luiz Antonio de Assis Brasil, às vezes grafado sem o “de”.
A capa acima é da edição de 1997 – a sétima – de CÃES DA PROVÍNCIA, sua principal obra, publicada pela editora Mercado Aberto. É dessa edição que extraio a síntese biobibliográfica inicial a respeito do autor, com algumas inserções de informações extraídas da internet:
“Gaúcho de Porto Alegre, 1945. Embora de família fortemente ligada à formação do Estado, passou a infância e a adolescência em Estrela, zona de colonização germânica. De volta a Porto Alegre, estudou com os padres jesuítas e seguiu Direito [na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS], formando-se em 1970. Durante os estudos e mesmo depois, atuou na Orquestra Sinfônica de Porto Alegre [OSPA] como violoncelista. A música, entretanto, foi substituída pela literatura, e a prática da advocacia pelo magistério superior. Doutor em Letras, (...) professor adjunto na PUC do Rio Grande do Sul onde, no Curso de Pós-graduação em Letras, coordena uma oficina de criação literária que já publicou várias antologias de contos [e revelou diversos escritores que ficariam célebres, como Letícia Wierzchowski, Cíntia Moscovich, Daniel Pellizzari, Monique Revillion e Daniel Galera].
Atuou na administração cultural, exercendo sucessivamente os cargos de diretor do Centro Municipal de Cultura de Porto Alegre e diretor do Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul – em sua gestão deu início à publicação da série Autores Gaúchos, de repercussão nacional –, e foi, por último, subsecretário de Cultura de seu Estado. No inverno 84/85 foi bolsista do Goethe-Institut na República Federal da Alemanha. Por solicitação do Ministro Furtado fez parte, com Affonso Romano de Sant’Anna, da comissão especial que ofereceu sugestões para uma política federal do livro. Em 89/90 foi Catedrático Convidado de Literatura Brasileira na Universidade dos Açores, Portugal. Presidente da Associação gaúcha de Escritores no Biênio 88/90. Membro dos Conselhos Editoriais das editoras da PUC/RS e da Universidade de Caxias do Sul, bem como do Conselho Estadual de Cultura.
Obras publicadas: Um quarto de légua em quadro (1976) [...]; A prole do corvo (1978) [...]; Bacia das Almas (1981) [...]; Manhã transfigurada (1982) [...]; As virtudes da casa (1985) [...]; O homem amoroso (1986); Cães da Província (1987) [...]; Videiras de cristal (1990) [...]; [A trilogia Um Castelo no Pampa, composta por:] Perversas Famílias (1992) [...]; Pedra da Memória (1993) [...]; [e] Os senhores do século (1994) [...]; Anais da Província-Boi (1997); Concerto Campestre (1997). Em 1988 publica no jornal Diário do Sul o folhetim Breviário das Terras do Brasil [compilado em livro em 1997, que também foi o ano em que Luiz Antonio de Assis Brasil foi escolhido patrono da 43ª Feira do Livro de Porto Alegre].
Elogiado por A. Bosi, em sua História Concisa da literatura brasileira, foi incluído pelo brasilianista Malcolm Silverman na obra A Moderna sátira brasileira. Faz parte do livro A posse da terra, de Cremilda Medina (Ed. Casa da Moeda, Portugal), e é objeto de estudos e citações em obras de Antonio Hohfeldt, Regina Zilbermann, Flávio Loureiro Chaves, Volnyr Santos e outros. [...]
Prêmios recebidos, sem inscrição prévia: prêmio Ilha de Laytano (1977) por Um Quarto de Légua em Quadro; Prêmio Érico Veríssimo (1987), concedido pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre pelo conjunto de sua obra, e o Prêmio Literário Nacional, do Instituto Nacional do Livro (1988), por Cães da Província.(in: Cães da Província, 7ª edição. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1997, p. 3-4. As inserções entre colchetes saíram do verbete sobre o autor na Wikipedia).
Para completar as informações a respeito de Luiz Antonio de Assis Brasil, depois de 1997: em 1998, ele é palestrante convidado na Brown University, em Providence, EUA; em 2000, ele participa do programa Distinguished Brazilian Writer in Residence, na Berkeley University, Califórnia, EUA. E, entre 2011 e 2014, atuou como Secretário da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, durante a gestão do governador Tarso Genro. Ele continua atuando como professor e, periodicamente, escreve para jornais, como Zero Hora.
Obras publicadas nos anos 2000: O Pintor de Retratos (2001); A margem imóvel do rio (2003); Música perdida (2006); Ensaios íntimos e imperfeitos (2008); e Figura na Sombra (2012). Seu livro mais recente é O Inverno e Depois, lançado em setembro de 2016, pela L&PM.
Prêmios recebidos nos anos 2000: prêmio Machado de Assis, da Biblioteca Nacional (2001), por O Pintor de retratos; menção honrosa do Prêmio Jabuti (2003) e prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira (2004), por A margem imóvel do rio.
A obra do autor, atualmente, está sendo editada pela editora L&PM, nas versões normal e pocket (mais adiante, veja a capa da edição de CÃES DA PROVÍNCIA pela L&PM). E também ganhou edições no exterior, na Europa e América Latina. E sua obra também é constantemente analisada em teses acadêmicas – já saíram até livros de análise de livros específicos do autor.
Ah: a obra de Luiz Antonio de Assis Brasil também já ganhou adaptação para o cinema! Foram quatro filmes até o momento em que escrevo, adaptando livros do autor: o primeiro foi Videiras de cristal, adaptado em 2002, pelo diretor Fábio Barreto, sob o nome A Paixão de Jacobina; em 2004, Concerto Campestre foi adaptado para um filme homônimo, por Henrique de Freitas Lima; em 2005, Um quarto de légua em quadro é adaptado pelo diretor Paulo Nascimento, sob o nome Diário de um Novo Mundo; em 2008, Manhã Transfigurada ganha um filme homônimo, dirigido por Sérgio de Assis Brasil; e Ensaios Íntimos e Imperfeitos é adaptado para uma série de mini-documentários, com direção de Douglas Machado, em 2016 – todos com atuação do próprio Assis Brasil. Há notícias de que O Pintor de Retratos também está prestes a ser adaptado para o cinema.
Luiz Antonio de Assis Brasil é tido como um importante escritor gaúcho, e, como tal, seus livros são mais “cabeça”, como todo bom literato gaúcho, ou, pelo menos, levando em conta as atuais tendências da literatura comercial, cujos maiores sucessos são, basicamente, livros de ficção fantástica. Por isso, tanto a linguagem como os temas abordados são mais voltados a leitores mais “instruídos”, e seus livros atraem mais quem já ouvira falar de sua obra anteriormente. E o tema mais recorrente da obra do autor é o passado do Rio Grande do Sul, principalmente o século XIX. Um Quarto de Légua em Quadro, por exemplo, se passa na época da colonização açoriana do Rio Grande do Sul, no século XVIII; A Prole do Corvo recupera episódios da Guerra dos Farrapos (1835 – 1845); As Virtudes da Casa, segundo o estudioso Valdocir Esquinsani, que até mesmo publicou em livro a sua tese (As Metamorfoses de um Mito, Passo Fundo, Editora Universitária, 2000), recria, no Rio Grande do Sul do século XIX, o mito grego do herói trágico Agamenon, imortalizado em peça teatral de Ésquilo; Videiras de Cristal recupera o episódio da Revolta dos Muckers, uma seita religiosa formada por colonos alemães na região de São Leopoldo, RS; Concerto Campestre se passa no contexto da atividade agropecuária do século XIX (e, assim como O Homem Amoroso, carrega um acento autobiográfico, tendo como tema condutor a música); e CÃES DA PROVÍNCIA trata de acontecimentos da cidade de Porto Alegre no século XIX.
Saibam mais sobre o autor em seu site pessoal: www.laab.com.br.

O HOMENAGEADO
Bão. CÃES DA PROVÍNCIA lança mão de dois episódios principais ocorridos na década de 1860: os crimes da Rua do Arvoredo, quando o ex-policial e açougueiro José Ramos se torna suspeito de fabricar linguiças com carne humana; e o julgamento do pedido de interdição dos bens do escritor José Joaquim de Campos Leão, também conhecido como Qorpo-Santo. Ambos personagens reais.
Antes de prosseguir, devo falar um pouco a respeito de Qorpo-Santo, o objeto do romance citado. Escritor de peças de teatro, e considerado por vários críticos teatrais o precursor do teatro do absurdo no Brasil – e, possivelmente, no mundo – José Joaquim de Campos Leão nasceu em Triunfo, RS, em 1829, e faleceu em Porto Alegre, em 1883, vitimado por uma tuberculose. Ele não foi reconhecido em vida – suas ousadas peças teatrais só foram redescobertas e montadas nos anos 1960.
Na juventude, teve o pai assassinado durante a Guerra dos Farrapos, em 1839; mudou-se para Porto Alegre para estudar gramática. Inicialmente, trabalha no comércio, e, a partir de 1850, habilita-se para o Magistério Público, fazendo carreira também como professor. Qorpo-Santo funda um grupo dramático em 1851, escreve para jornais da Província do Rio Grande do Sul a partir de 1852, e, em 1855, deixa o magistério e leciona em vários colégios. Em vida, Qorpo-Santo teve várias profissões, tanto em Porto Alegre como em Alegrete, para onde muda-se em 1857 com a família (no ano anterior, ele casou-se com Inácia de Campos Leão). Em Alegrete, Qorpo-Santo atua como delegado de polícia e vereador.
Em 1861, a família volta para Porto Alegre. No ano seguinte, Qorpo-Santo, já adotando o pseudônimo célebre (a grafia deve-se a uma proposta pessoal de reforma ortográfica – muitos leem “Corpo-Santo”, mas eu, pessoalmente, imagino que se leia, aproveitando o fonema da letra Q, “Kuorpo-Santo”), começa a escrever suas peças teatrais. Em 1862, ainda, se faz notar sinais dos transtornos mentais que levam Dona Inácia a pedir a interdição dos bens do marido. Qorpo-Santo é diagnosticado com monomania, com “superexcitação da atividade cerebral”, por sua compulsão de “tudo escrever” – apenas em maio de 1866, ele escrevera oito peças teatrais, das dezessete que escreveu ao todo! Porém, os psiquiatras da Porto Alegre daquele tempo não chegam a um acordo sobre o estado mental do paciente, que alterna momentos de lucidez com alucinações. Ainda assim, é decidida pela interdição dos bens. E Qorpo-Santo é enviado para novos exames psiquiátricos no Rio de Janeiro, que atestam que ele goza de boa saúde mental.
Mesmo assim, em 1868, sob novo julgamento, a interdição é mantida, e seus bens são administrados por terceiros – Dona Inácia também é impedida de administrar esses bens. Mesmo com o parecer favorável, o estigma está criado, e Qorpo-Santo se vê cada vez mais isolado, sendo obrigado a deixar a atividade jornalística. Ainda assim, em 1877, Qorpo-Santo monta uma gráfica, e por conta própria edita sua obra, reunida nos nove volumes da coletânea conhecida como Ensiqlopedia, ou seis mezes de huma enfermidade. É na Ensiqlopedia que, além de crônicas, poemas, confissões, receitas culinárias e outros textos, Qorpo-Santo edita suas ousadas peças teatrais. A partir dos anos 1960, inicia-se o resgate das obras de Qorpo-Santo – até hoje, só foram encontrados seis dos nove volumes da Ensiqlopedia. De vez em quando, é possível encontrar compilações de suas peças teatrais nas livrarias e bibliotecas.
Qorpo-Santo é tido como precursor do teatro do absurdo, com temas que iam contra as tendências do teatro da época, guiado pelos ideais do Romantismo. Dentre as dezessete peças até hoje identificadas de Qorpo-Santo, incluem-se: As Relações Naturais; Matheus e Matheusa; Hoje sou Um, Amanhã Sou Outro; Eu Sou Vida, Eu Não Sou Morte; Lanterna de Fogo; A Separação dos Dois Esposos. Nessas peças, Qorpo-Santo lança mão de ousadias para sua época, como colocar prostitutas como personagens; tratar do homossexualismo de forma natural; se incluir como personagem; e até mesmo indicar ousadias cênicas difíceis de reproduzir com as limitações cênicas do século XIX, como personagens que simulam perder partes do corpo, os atores contracenarem com animais vivos no palco ou o fim da peça com jorros e explosões de luz. Mas, o mais importante é que os personagens de Qorpo-Santo são projeções dele mesmo, principalmente em seu inconformismo com as regras sociais de seu tempo – inconformismo que se tornou mais forte depois que foi submetido aos exames, internações e à interjeição de seus bens. Há de lembrar que os tratamentos psiquiátricos do século XIX, pelos padrões de hoje, lançavam mão de técnicas cruéis e questionáveis, como isolamento em hospícios, aprisionamento com correntes e camisas-de-força, tratamentos com choques elétricos e até lobotomia.
(Fonte: sites Wikipedia e Enciclopédia Itaú Cultural [enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8151/qorpo-santo])

QORPO-SANTO NO ROMANCE
É como um sujeito inconformado com as regras sociais que Qorpo-Santo é retratado em CÃES DA PROVÍNCIA. No livro, lançado em 1987 e vencedor do Prêmio Literário Nacional do INL em 1988, Luiz Antonio de Assis Brasil reconstitui os aspectos da cidade de Porto Alegre no século XIX, tanto na parte física – a descrição da cidade – como social. A sociedade porto-alegrense do século XIX se encontrava muito presa às convenções sociais, às regras de conduta impostas pela Igreja, pela Política e pelos costumes, tanto as classes ricas como as pobres. Se portam como cães fiéis e obedientes a essas convenções (daí o nome do romance). Por seu provincianismo, qualquer fato que acabe saindo do comum agita e revolta a população da Capital da Província, mobiliza as autoridades, provoca interdições e depredações.
Por isso, as notícias da prisão de José Ramos, o linguiceiro, e da interdição dos bens de Qorpo-Santo agitam a população da capital. Além de não conseguirem aceitar o fato de terem, involuntariamente, consumido carne humana, não conseguem suportar o fato de um louco dizer o que pensa de todos esses acontecimentos, e expor a sociedade de uma forma que não consegue suportar. Ou, pelo menos, de alguém que acreditam ser louco: Qorpo-Santo é retratado como um homem de superioridade intelectual, o mais inteligente daquela cidade, mas que, como a grande maioria dos gênios, não foi reconhecido por seus contemporâneos. Loucos seriam, na verdade, os que queriam interditar o pobre gênio. Mas, mais que isso, tais processos acabam escancarando histórias de crimes, adultérios, incestos e outras crueldades, às quais Qorpo-Santo denuncia, a plenos pulmões a quem assiste seu julgamento, ou através de suas peças, que ele começa a escrever.
Para escrever CÃES DA PROVÍNCIA, Luiz Antonio de Assis Brasil também contou com a consultoria do historiador Décio Freitas, que conseguira o material referente ao processo contra José Ramos e a mulher, Catarina Palse. Foi só em 1996 que Freitas publicaria seu livro O Maior Crime da Terra – e só em 2004 que o escritor David Coimbra consultaria Freitas para escrever Canibais. Então, Assis Brasil chegou antes.
Bão. O romance conta, de forma não-linear, e intercalando personagens e situações, os acontecimentos ocorridos na Porto Alegre da década de 1860. Quanto à parte de Qorpo-Santo, os acontecimentos concentram-se desde o início do processo de interdição até a sua partida para o Rio de Janeiro.
Pelo menos um personagem ficcional tem grande importância na narrativa: o comerciante Eusébio Cavalcante, amigo de Qorpo-Santo, de início muito preocupado com as convenções sociais e seus negócios, até receber a notícia de que sua esposa, a geniosa Lucrécia, fugira com o amante. A ausência da esposa causa uma grande angústia a Eusébio – angústia que só aumenta quando, instado por Qorpo-Santo e levado a um necrotério, ele acaba reconhecendo um corpo esquartejado de mulher como sendo o de Lucrécia. Corpo esse que fora encontrado entre os restos das vítimas de José Ramos, na casa da Rua do Arvoredo. Nos dias que seguem, Eusébio se entrega ao luto, que até dá uma melhorada depois que faz uma viagem e se envolve com uma alemã, um caso rápido e fugaz; mas tem cada vez mais certeza de que Lucrécia está viva, vivendo com o amante, e reconhecera o corpo, e lhe dera enterro em nome da mulher, como uma forma de desviar a atenção da população.
Até que Lucrécia, de repente, volta para casa, arrependida do adultério, infeliz com a vida que levava com a família do amante... porém, não pode se mostrar ao público, e, trancada em casa, sucumbe aos poucos ante à loucura de Eusébio, e sua própria. O retorno da esposa só deixa o comerciante mais angustiado, e a libertação só se dá depois que consegue, afinal, se livrar da esposa, dando-lhes uma morte piedosa.
Não sei dizer se os personagens do Dr. Joaquim Pedro e do Dr. Landell são baseados em figuras reais. Esses são os médicos encarregados de discutir o caso do paciente Qorpo-Santo, para depois oferecerem o parecer ao juiz, determinando se ele deve ter os bens interditados ou não; e aproveitam qualquer ocasião para discutir o caso, desde uma caçada nos campos até uma aula de anatomia na Santa Casa de Porto Alegre – o principal hospital daquele tempo. Enquanto o Dr. Landell é favorável ao diagnóstico de que Qorpo-Santo é louco, o Dr. Joaquim Pedro é favorável ao diagnóstico de que Qorpo-Santo é são – e se convence disso depois de ler as peças escritas pelo paciente (há, inclusive, pequenas e breves descrições das peças de Qorpo-Santo ao longo do livro).
O delegado de polícia Dario Calado, sim, é real. Acompanhamos alguns de seus pensamentos diante dos casos que se apresentam diante de si. E também de seus interesses amorosos: ele chega a desejar a criminosa Catarina Palse – que tem uma participação muito breve no romance, assim como a de José Ramos – e, depois, deseja até mesmo Inácia, a esposa de Qorpo-Santo. Por pouco, em um segundo encontro, Calado não consuma seu desejo pela mulher do louco.
Inácia de Campos Leão vive, ao longo do romance, um sentimento conflitante em relação ao marido. Ambos se amam, mas Inácia não consegue suportar o fato de Qorpo-Santo estar entregue à sua atividade insana de escrever, e deixar a família de lado, vivendo na rua da amargura. Por isso, opta pela interdição dos bens, com a certeza de que poderá administrá-los. Como prova de sentimentos conflitantes, ela chega até a dormir com o marido, e, pouco depois, brigar com ele, que foge, nu, pelas ruas, e depois é preso.
Apesar da lucidez de Qorpo-Santo em denunciar as mazelas da sociedade em que vive, o personagem também alterna momentos de pura alucinação e ações ilógicas: cria um sagui em seu quarto, muda o nome de seu criado e confidente, Juvêncio, para Inesperto, tranca a porta da frente de seu sobrado com tábuas – o acesso para sua casa, agora, se dá através de uma escada portátil, pela janela de seu quarto – e recebe “visitas” do imperador francês Napoleão III (sobrinho de Napoleão Bonaparte), que exige que Qorpo-Santo reescreva seu destino, para que não termine como o tio. Em alguns momentos, Qorpo-Santo chega a apresentar o Imperador, que só ele vê, a pessoas em seu redor. Nos diálogos com o Imperador imaginário, Qorpo-Santo (ou melhor, Assis Brasil) aproveita para discutir reformas sociais lúcidas, e válidas para qualquer tempo. De vez em quando, a imaginação de Qorpo-Santo confunde Porto Alegre com Paris. Aí, se pode questionar: sim, Qorpo-Santo está louco. Essas não são atitudes de gente que denuncia mazelas de forma tão lúcida. Ou seriam uma forma racional de protesto? Os leitores podem decidir.
Inesperto também se mostra um personagem importante no livro, o ponto de equilíbrio de Qorpo-Santo entre a lucidez e suas alucinações, apesar de também agir como um “cão da província” – apenas cumpre ordens, sem maiores questionamentos, por mais insanas que sejam, e não tem, exatamente, uma opinião formada a respeito do que presencia. Inesperto é o contato entre seu patrão e a realidade, uma espécie de Sancho Pança para um Dom Quixote porto-alegrense.
Enfim. CÃES DA PROVÍNCIA pode ser encontrado nas livrarias e bibliotecas. É um romance “cabeça”, que pode exigir um pouco do leitor, mas livros, em tese, servem justamente para isso: colocar cultura na cabeça dos leitores. Acrescentar palavras novas ao vocabulário, acrescentar experiências novas à vida. E procurar entender não apenas por que Luiz Antonio de Assis Brasil é um de nossos escritores mais importantes; e porque CÃES DA PROVÍNCIA é um livro premiado.
Quem sabe, também, não se colocar no lugar do atormentado Qorpo-Santo.

Esta resenha é uma versão revisada e com alterações do texto publicado no blog Estúdio Rafelipe (https://estudiorafelipe.blogspot.com.br/). Aproveitem e conheçam.
Este título, como tantos outros, está disponível na Biblioteca Pública Municipal Theobaldo Paim Borges. Procurem e surpreendam-se.
Em breve, nova resenha de livro.

Até mais!

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Seção Resenha de Livros: CANIBAIS

Olá.
Aqui é o Rafael Grasel de novo.
Hoje, em nova colaboração para o blog da Biblioteca Pública Municipal, mais uma resenha de livro para vocês! Ligado à resenha anterior.
Na última postagem, falei de livro, versando sobre um dos casos policiais mais tenebrosos ocorridos na capital do estado do Rio Grande do Sul – Porto Alegre – no século XIX.
O livro de hoje trata do mesmo tema: o tal caso tenebroso. Mas, desta vez, escolhi um romance. De um dos cronistas mais irreverentes e mais agradáveis de ler já nascidos no Rio Grande do Sul.
Hoje, então falarei de CANIBAIS, de David Coimbra.

O AUTOR – DO IAPI PARA O MUNDO
Antes de partir para a parte pesada, partamos para a parte leve: falar um pouco a respeito de David Coimbra.
Quando pensamos nos cronistas que fazem, ou fizeram fama no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, RS, expressando suas opiniões com erudição notável, bem, quais são os primeiros nomes que vem à cabeça dos leitores do citado jornal? A maioria botará, em primeiro lugar, Luís Fernando Veríssimo, certamente. Ou, quem sabe, Paulo Sant’Anna. Ainda serão lembrados nomes como Martha Medeiros, Mariana Kalil, Cláudia Tajes, Fabrício Carpinejar, José Cláudio Pinheiro Machado, A. J. Camargo, Celso Loureiro Chaves, Cláudio Moreno, Ruy Carlos Osterman... e o saudoso Moacyr Scliar. E, claro, David Coimbra.
O cronista, jornalista e escritor porto-alegrense é o meu cronista favorito, dentre tantos que abrilhantam não apenas o jornal Zero Hora, tornando esse periódico um dos melhores do Brasil, em termos de credibilidade, refinamento, inteligência, como outros veículos do Grupo RBS de Comunicação – ainda que haja ainda hoje quem grite o refrão “RBS mente!”. David Coimbra é uma das grandes mostras da inteligência dos gaúchos na imprensa.
Inicialmente: David Coimbra nasceu em 1962, em Porto Alegre, e cresceu no bairro do IAPI. Formado em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), ele já trabalhou em mais de dez redações de jornais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Inicialmente, ele trabalhou como assessor de imprensa da Livraria Sulina – depois, ele trabalhou em vários jornais, até fixar-se no grupo RBS e seu principal veículo, o jornal Zero Hora, onde, além de manter uma coluna semanal, foi editor de esportes. Aliás, sua coluna semanal ficava na página de Esportes. Coimbra também já cobriu várias edições da Copa do Mundo, com sua equipe. Mais tarde, Coimbra também ocupou a antepenúltima página da edição dominical, substituindo a página do humorista Marco Aurélio. Atualmente, ele mantém uma coluna diária na última página do jornal, substituindo Paulo Sant’Anna, impedido por problemas de saúde.
Em 2013, David Coimbra foi diagnosticado com câncer no rim, o que determinou sua mudança do Brasil. Atualmente, David Coimbra reside em Boston, EUA, desde junho de 2014. De lá, ele continua escrevendo para a Zero Hora, além de participar dos programas Timeline, da Rádio Gaúcha, e do humorístico Pretinho Básico, da Rádio Atlântida FM.
Ele também já foi muito premiado: no total, foram 10 prêmios da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), 1 Esso Regional Sul, 1 Açorianos de Literatura, 1 Habitasul de Literatura, 1 Direitos Humanos de Reportagem e 1 Érico Veríssimo de Literatura.
É bem fácil determinar as características principais das crônicas de David Coimbra, que o tornam uma espécie de sucessor do mestre Luís Fernando Veríssimo em erudição, popularidade, humor e refinamento, tanto em suas colunas opinativas quanto em suas crônicas do cotidiano:
1 – O uso de linguagem coloquial, como se conversasse com o leitor em uma mesa de bar;
2 – A capacidade de conseguir tratar de qualquer assunto, mas sempre dando um jeito de inserir, nas crônicas, um desses três assuntos, ou todos eles:
a)    Memórias de sua infância e adolescência no bairro do IAPI e em Porto Alegre em geral, incluindo família, amigos, namoros, personagens marcantes;
b)    Bastidores de seu trabalho, e também o de seus colegas de redação;
c)    Futebol – principalmente a dupla Gre-Nal ou a Seleção Brasileira (natural, já que seus textos no geral saem na coluna de Esportes...);
d)    Mulheres – de preferência, bonitas e sensuais.
3 – Quando o tema mais forte de suas crônicas não é o futebol, é as mulheres, um toque de erotismo, o que soa como machismo para alguns leitores.
4 – Não raro, o uso do suspense, deixando o leitor em expectativa pelo que vem na próxima linha, obrigando-o a ler as suas crônicas até o final.
Em tempos recentes, Coimbra incluiu um quinto tema em suas crônicas: o filho, Bernardo, tido com a mulher, Marcinha.
Mas, no geral, o que deveria ser uma crônica esportiva, focada apenas no esporte, acaba se convertendo em uma janela para o mundo – ainda que com menção constante aos esportes, principalmente ao futebol, as crônicas de David Coimbra acabam falando da condição humana. Não raro, comparando feitos históricos, de grandes povos e homens dignos de menção, às ações de técnicos, jogadores e dirigentes de times. E isso já faz de David Coimbra um escritor surpreendente. Palavras emprestadas do saudoso Moacyr Scliar.
As crônicas de David Coimbra ainda ganham brilho, nas páginas de Zero Hora, com as chamativas ilustrações. Seu principal colaborador é Gilmar Fraga, mas também Rodrigo Rosa, Gonza Rodriguez e outros ilustradores ajudaram a trazer mais fama à coluna de David Coimbra.
Oh, claro. Ainda temos de falar dos livros que ele escreveu. O primeiro foi o livro-reportagem 800 Noites de Junho, de 1993, sobre o caso Daudt, o mais rumoroso crime político do Rio Grande do Sul. Vieram também Atravessando a Escuridão (1996), Vida no Campo, Viagem (2001), e o livro de poemas Uma Estação no Inferno. Seu forte ainda são as compilações de crônicas: a primeira foi A Mulher do Centroavante e Outras Histórias (1999). A Cantada Infalível (2000) veio a seguir – em 2002, A Cantada Infalível e A Mulher do Centroavante foram unidos em um único livro, lançado pela L&PM. Em 2002, veio Crônica da Selvageria Universal.
Desde por volta de 2003, David Coimbra se estabeleceu, com seus livros, na editora L&PM (os anteriores saíram por outras editoras, como a Artes & Ofícios), pelo qual publicou: Canibais, seu primeiro romance, de 2004; Mulheres! (2005), crônicas; Pistoleiros Também Mandam Flores (2007), lançado inicialmente como folhetim eletrônico; Jogo de Damas (2007), crônicas; Cris, a Fera, e Outras Mulheres de Arrepiar (2008), também lançado como folhetim; Meu Guri (2008), relatos de sua experiência como pai; A História dos Grenais (2009), em colaboração com Nico Noronha, Mário Marcos de Souza e Carlos André Moreira; Jô na Estrada (2010), romance (com inserções de quadrinhos de Gilmar Fraga – que também ilustrou Meu Guri); Um Trem para a Suíça (2011), crônicas; Uma História do Mundo (2012), livro de História; As Velhinhas de Copacabana (2013), crônicas; e o mais recente, A Graça de Falar do PT, de 2015, crônicas.

VOLTANDO À RUA DO ARVOREDO
Então, hoje vou falar justamente de CANIBAIS – PAIXÃO E MORTE NA RUA DO ARVOREDO, de 2004. Publicado pela L&PM, em dois formatos físicos – o normal, medida 14 x 21 cm, 236 páginas; e o Pocket, 10,5 x 17,7 cm, 272 páginas. Com introdução do saudoso Moacyr Scliar.
É a versão romanceada do famoso episódio da “linguiça humana”, ocorrido em Porto Alegre entre 1863 e 1864. Já falei a respeito desse episódio, quando resenhei o livro O Maior Crime da Terra, de Décio Freitas. Aliás, o historiador gaúcho, falecido em 2004, foi um consultor para David Coimbra reconstruir, à sua maneira, os crimes da Rua do Arvoredo.
Vamos relembrar: o ex-policial e açougueiro José Ramos, entre 1863 e 1864, matou várias pessoas, com golpes de machado na cabeça e cortes no pescoço, e, com a carne de seus corpos, fez linguiças que eram muito apreciadas pela população porto-alegrense de então – quer dizer, até descobrirem a composição da iguaria. A população – 20 mil “almas” então, aproximadamente – ficou chocada e horrorizada em se ver transformada, involuntariamente, em canibal, por isso, por muito tempo, o crime foi um dos maiores tabus da história de Porto Alegre. Ele teve como cúmplices a esposa, a alemã Catarina Palse, encarregada de atrair as vítimas para a casa número 27 da Rua do Arvoredo (atual Rua Fernando Machado, na Cidade Baixa de Porto Alegre); o corcunda Henrique, que ajudava a se livrar dos restos mortais; e o também açougueiro e alemão Carlos Claussner, possível autor da ideia de transformar as vítimas em linguiça. Até que Ramos resolveu, após um desentendimento, matar Claussner. José Ramos e Catarina Palse foram presos em abril de 1864, depois que o então delegado Dario Callado encontrou evidências da autoria de Ramos em seu último crime – as mortes do mercador Januário, seu caixeiro e um cachorro.
Bem. Apesar de ter por base o livro de Freitas, e numerosas fontes históricas, Coimbra resolveu tomar algumas liberdades para fluir a história, que faz uso da linguagem coloquial, fluida e fácil de entender; bem-construídas referências históricas; uma dose generosa de erotismo; doses de humor; e também de suspense, pondo o leitor em alerta sobre o que vai acontecer a seguir na narrativa.
CANIBAIS conta tanto com personagens reais como também fictícios. Em comparação com O Maior Crime de Terra, podemos dizer que CANIBAIS é 40% ficção, 60% realidade. Coimbra resolveu não reconstituir a história literalmente, concentrando a realidade na reconstituição da Porto Alegre do século XIX, cidade de poucas comodidades higiênicas, mal iluminada com lamparinas de óleo de peixe, uma cidade de “escravos fugidos, imigrantes desgarrados, bandidos de todo tipo”.
Dentre os personagens que dominam a narrativa, podemos apontar como principais: a bela e misteriosa Catarina Palse, personagem real; e o sapateiro Walter Scherer, personagem fictício.
Se Décio Freitas até mesmo refuta a suposta beleza de Catarina Palse, Coimbra a reafirma – afinal, Catarina era responsável por atrair as vítimas homens para a casa de José Ramos. E, para dar mais certo, Catarina foi retratada como uma mulher linda. E também sofredora: Coimbra dá indícios de que Catarina sofre abusos por parte de José Ramos, retratado como um homem cruel, intransigente e que está, aos poucos, deixando se levar pelo dinheiro, provindo da venda das “linguiças humanas”. Mais ou menos como o perfil do assassino traçado por Décio Freitas. O açougueiro Carlos Claussner chega a ser citado, mas, de acordo com CANIBAIS, ele teria sido a primeira vítima de José Ramos, e o primeiro a virar linguiça; na realidade, ele foi, por um tempo, comparsa de Ramos, até seu assassinato – mas Ramos, de acordo com Décio Freitas, não o transforma em linguiça.
Como as alemãs daquele tempo, vistas com desconfiança, Catarina age quase que como uma prostituta – desnudando-se e fazendo sexo com as vítimas antes de, por uma armadilha (um alçapão sob uma mesa de refeição), “jogá-las” no porão da casa para Ramos, que as mata primeiro com a machadada na cabeça, depois com a degola.
(Bem, com base nesta descrição, alguém aí lembra do filme Sweeney Todd, de Tim Burton, sobre um barbeiro inglês que degola as vítimas com a navalha, e depois as manda para sua comparsa, que transforma-as em recheio de tortas?)
Com o uso da análise psicológica, Coimbra retrata Catarina como alguém que sofre, desde suas origens, na Transilvânia, mas que mantém ambiguidade em suas ações.
Walter, o sapateiro, é vizinho do casal. Rapaz honesto, culto, apreciador do então iniciante Machado de Assis. Fortemente sensibilizado de que algo está errado na casa dos vizinhos, principalmente porque continuamente ouve os gritos de Catarina – por quem é apaixonado. Catarina, secretamente, também é apaixonada por Walter, e, desse modo, o rapaz planeja salvá-la das mãos do violento Ramos.
Outros personagens fictícios que marcam presença na narrativa de CANIBAIS são: o simpático Brasiliano Calovi, um anspeçada (vigilante) folgazão e apreciador de mulheres, cujo maior parceiro de andanças é o guaipeca (cachorro) Januário (teria sido recurso de liberdade poética que o cachorro recebesse o nome da penúltima vítima – humana – real de José Ramos?); o gordo e próspero padeiro Manoel Antunes, que adora cozinhar comida “da corte” para os seus convidados, e casado com a ambiciosa Rosa (que, ao que tudo indica, está tendo um caso secreto com Ramos, a ponto de este tramar a morte do padeiro); a carola e fofoqueira Dona Honestina; e a sofredora Emiliana, criada do casal Ramos-Palse, que sofrera abusos de seus antigos patrões na juventude, quando ainda trabalhava em uma estância antes de fugir para Porto Alegre, e, por isso, tem uma atitude tímida e covarde. Outros personagens reais que aparecem são Bronze, a mais famosa cortesã de Porto Alegre – e, portanto, uma das maiores “amigas” de Brasiliano – e o delegado Dario Callado; outros personagens reais citados são a Baronesa de Gravataí e o príncipe de Ajudá, um príncipe africano que vivia bem em Porto Alegre. Coimbra também cita personagens da saga O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo (pai de Luís Fernando), para dar uma enriquecida na narrativa.
E mais enriquecida fica essa narrativa com a inserção de detalhados recursos de flashback, contando o passado de cada personagem até o momento – Brasiliano, Walter, Catarina, José Ramos, Emiliana (aliás, como se manter insensível à triste história de Emiliana?). Além da inserção de causos aleatórios e anedotas tradicionais do Rio Grande do Sul, oferecendo um panorama da cultura popular gaúcha do século XIX. E, mais ainda, do suspense e de trechos arrepiantes.
Como escreve Moacyr Scliar na introdução, “raramente, na ficção brasileira, encontramos tão próximos Eros e Tanatos, a paixão e a morte”. O grande motor de CANIBAIS é a oposição entre paixão e morte: paixão, representada por Catarina Palse; e morte, representada por José Ramos. E, no meio dessa oposição, Walter, Brasiliano, Antunes e Emiliana acabam se inserindo, em uma história que tem tudo para terminar mal para todo mundo. Ou quase todo mundo.
Os maiores momentos de suspense da saga são: os dois primeiros capítulos, mostrando o método de Catarina e um assassinato de Ramos; o episódio em que Walter invade a casa 27 e dá de cara com Catarina, declarando-lhe seu amor – e foge de Ramos a muito custo; O episódio em que Catarina tenta atrair Brasiliano para a casa 27 (ela resolve eliminar o anspeçada por sentir que ele poderia representar uma ameaça), mas sua tentativa é frustrada pela repentina aparição de Bronze; o episódio em que Emiliana invade o porão da casa 27, descobre os segredos de Ramos, mas não consegue escapar da fúria do patrão, que a possui, e, depois, a degola, decretando sua trágica trajetória com um fim ainda mais trágico, porém com uma dose de estoicismo; os capítulos em que Catarina e Ramos armam a armadilha para o padeiro Antunes; a tensão criada quando Walter tenta obter notícias da casa e/ou é avisado do perigo, pessoalmente, por Bronze (Emiliana também tenta avisar Walter, mas não consegue por covardia); e o episódio em que Brasiliano é, afinal, atraído para a casa 27, mas uma tragédia não acontece porque Walter consegue intervir. E, ainda, a cena em que Catarina seduz Walter, mas sem sucesso.
Coimbra altera o fim original do caso, dando vez à ficção. Mas, sem querer, dando espaço para que a história fique ainda mais lendária: se, nos dias que correm, o livro de Décio Freitas está sob suspeita, para alguns historiadores, de ser uma peça de ficção, que dizer do livro de Coimbra, que não foi feito para ser levado a sério?
De todo modo, CANIBAIS é uma boa pedida para os que gostam de romance histórico, suspense e histórias de serial killer. Além disso, CANIBAIS é um livro bem fácil de encontrar nas livrarias – principalmente, as que dispõem do famoso display dos livros da L&PM Pocket, que, além de muito baratos (em media, os mais finos não passam de R$ 20, e os grossos nem chegam a R$ 35 – ainda), dá para levar comodamente em qualquer bagagem. No bolso, vamos dizer que em termos, já que alguns são grossos demais para caberem em bolsos de calça, principalmente as justas.

Esta resenha é uma versão revista e com alterações do texto publicado anteriormente no blog Estúdio Rafelipe (https://estudiorafelipe.blogspot.com.br/). Aproveitem e conheçam.
Visitem a Biblioteca Pública Municipal Theobaldo Paim Borges! De repente, você pode ser surpreendido com o livro que você escolheu!
Em breve, nova resenha.

Até mais!

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Seção Resenha de Livros: O MAIOR CRIME DA TERRA

Olá.
Aqui é o Rafael Grasel novamente.
Em nova colaboração para o blog da Biblioteca Pública, trago, hoje, mais uma resenha de livros – e, hoje, flertando com o macabro.
Este é um livro de história, dos antigos – apesar de ter sido lançado em um tempo próximo: os anos 1990. Estamos em época de revisionismo de nosso passado – infelizmente, a análise de documentos históricos está nos fazendo ver: o passado não foi como os historiadores positivistas, ou da “direita”, conceberam; nem tanto como os revisionistas, da “esquerda”, divulgaram há tanto tempo.
O livro escolhido é O MAIOR CRIME DA TERRA, de Décio Freitas.

O AUTOR
Houve um tempo em que ser um historiador da linha marxista dava grande status a um autor de livros de história; hoje, vemos que os marxistas não são assim tão confiáveis em sua revisão dos fatos históricos. Tudo bem, eles deram voz aos personagens menos favorecidos da História, como os escravos, os trabalhadores e os miseráveis, os menos passíveis de terem seus nomes e ações registrados no mármore da História, isso quando seus nomes ou ações eram registrados; mas, ao mesmo tempo, criaram uma cultura do “coitadismo” na História, em que as elites econômicas e políticas são as grandes vilãs, explorando e oprimindo as classes menos favorecidas, sem qualidades redentoras; criaram um contínuo rancor ao sistema capitalista, mesmo que ele seja seguro (ou talvez nós, que vivemos sob esse sistema, que estamos alienados à realidade, segundo os marxistas); e pregam uma doutrina da necessidade de substituição do capitalismo explorador e alienante por doutrinas político-econômico-sociais sem garantias de resultados positivos – tais doutrinas (vocês sabem do que falo: o comunismo!), comprovadamente, faliram, nos países em que foram aplicados, por conta de suas contradições internas – para garantir a coletivização, acabaram suplantando liberdades individuais e implantando ditaduras com caçadas a opositores. Se entenderam o exposto acima, então também são entusiastas em História, certo? Estariam também abertos ao debate e à dialética (que também é uma característica da historiografia marxista)?
Bão. Escrevi essas palavras acima porque Décio Freitas, o referido autor do referido livro acima, foi um historiador que seguia a linha marxista. Em sua época, era respeitado; hoje, sua confiabilidade está sob suspeitas.
Décio Bergamaschi Freitas nasceu em Encantado, RS, em 1922, e faleceu em Porto Alegre, RS, em 2004. Ele é formado em direito pela Universidade do Rio Grande do Sul – ainda na faculdade, Freitas filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro e começou a exercer, também, o jornalismo. Ele atuou como repórter para os jornais gaúchos Correio do Povo, Diário de Notícias e Tribuna Gaúcha. Após o Golpe de 1964, ele fugiu para São Paulo, para o Rio de Janeiro e para Montevidéu, capital do Uruguai. Aliás, foi em Montevidéu que Freitas publicou seu primeiro livro, Palmares – la Guerrilla Negra, em 1971. No mesmo ano, o livro foi publicado no Brasil, sob o título Palmares – A Guerra dos Escravos.
Décio Freitas alcançou notoriedade, ao longo dos anos, como “Historiador dos Vencidos” – foi, inclusive, um dos primeiros a lançar luz sobre os movimentos de resistência dos negros à escravidão no Brasil Colônia, e a dar visibilidade ao então desconhecido movimento do Quilombo de Palmares e de seu líder mais importante, Zumbi, numa época em que ainda se considerava como grande feito do movimento negro o gesto “altruísta” de uma branca: a Princesa Isabel, signatária da Lei Áurea de 1888.
Seus livros seguintes foram: Insurreições Escravas (1975); Escravos e Senhores-de-Escravos (1977); Cabanos – Os Guerrilheiros do Imperador (1978); O Escravismo Brasileiro (1980); O Capitalismo Pastoril (1980); Escravidão de Índios e Negros no Brasil (1980); O Socialismo Missioneiro (1982); A Revolução dos Malês (1985); Brasil Inconcluso (1986); A Comédia Brasileira (1994); O Maior Crime da Terra (1996); O Homem que Inventou a Ditadura no Brasil (1999); República de Palmares (2004); e A Miserável Revolução das Classes Infames (2005 – póstumo).
Hoje, a confiabilidade de Décio Freitas, como disse, está sob suspeita – há historiadores que acusam Freitas de ter criado dados de seus livros. Teria sido Freitas quem levantou dados sobre a suposta infância de Zumbi dos Palmares. Quem afirma sobre a polêmica acerca de Freitas foi o jornalista Leandro Narloch, em seu livro Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, publicado em 2011:
“A imaginação sobre Zumbi foi mais criativa na obra do jornalista gaúcho Décio Freitas, amigo de Leonel Brizola e do ex-presidente João Goulart. No livro Palmares: A Guerra dos Escravos, Décio afirma ter encontrado cartas mostrando que o herói cresceu num convento de Alagoas, onde recebeu o nome de Francisco e aprendeu a falar em latim e português. Aos 15 anos, atendendo ao chamado do seu povo, teria partido para o quilombo. As cartas sobre a infância de Zumbi teriam sido enviadas pelo padre Antônio Melo, da vila alagoana de Porto Calvo, para um padre de Portugal, onde Décio as teria encontrado. Ele nunca mostrou as mensagens para os historiadores que insistiram em ver o material. A mesma suspeita recai sobre outro livro seu, O Maior Crime da Terra. O historiador Claudio Pereira Elmir procurou por cinco anos algum vestígio dos registros policiais que Décio cita. Não encontrou nenhum. ‘Tenho razões para acreditar que ele inventou as fontes e que pode ter feito o mesmo em outras obras’, disse-me Claudio no fim de 2008. O nome de Francisco, pura cascata de Décio Freitas, consta até hoje no Livro dos Heróis da Pátria da Presidência da República.” (NARLOCH, 2011, p. 87).

O EXERCÍCIO DA HISTÓRIA
Bem, escolhi, de Décio Freitas, O MAIOR CRIME DA TERRA, justo um dos referidos livros que estão sob suspeita.
O MAIOR CRIME DA TERRA – O AÇOUGUE HUMANO DA RUA DO ARVOREDO – PORTO ALEGRE, 1863 – 1864 foi publicado em 1996, pela editora Sulina, e lança luz sobre um episódio obscuro e praticamente lendário da história da cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul.
Escrito em tom de romance policial, Décio Freitas reconta, em O MAIOR CRIME DA TERRA, a história tenebrosa de José Ramos, o linguiceiro. Entre 1863 e 1864, ele teria assassinado várias pessoas, com a ajuda de seus cúmplices, a esposa Catarina Palse e o também açougueiro Carlos Claussner, e transformado os corpos das vítimas em linguiça – a qual era muito apreciada pela população da então vila de Porto Alegre.
Freitas conta, no primeiro capítulo do livro, que a ideia da pesquisa nasceu em 1948, quando, a pedido do jornal Diário de Notícias, ele escreveu uma série folhetinesca sobre os crimes célebres de Porto Alegre, que fez muito sucesso e permitiu ao jornal superar, em vendas, o então concorrente Correio do Povo. O primeiro capítulo dessa série versa sobre o “caso da linguiça humana”. Na fase de pesquisa, o jovem Freitas, recém-formado em advocacia, percebeu que o assunto era um tabu para a população porto-alegrense: praticamente ninguém da cidade conseguia conceber a ideia de ter se transformado, involuntariamente, em canibal. As provas, segundo Freitas: primeiro, porque, por pressão de autoridades locais, o folhetim sobre o caso da “linguiça humana” no Diário de Notícias sofreu limitações e não foi conclusivo sobre o caso; segundo, porque os processos judiciais levantados contra José Ramos, em um total de três, sumiram dos Arquivos Públicos. Freitas teria, felizmente, fotocopiado dois deles – o segundo e o terceiro processos. O primeiro sumiu; os outros dois também.
Freitas só voltou ao assunto nos anos 1980: em 1986, o escritor Luiz Antônio Assis Brasil incluiu o episódio em seu romance, Cães da Província, e Freitas forneceu subsídios ao autor. Depois, foi a vez de Roger Kintelsen, historiador norte-americano, consultar Freitas acerca do episódio, para incluí-lo em seu trabalho sobre cultura popular gaúcha. Em 1993, o Arquivo Histórico publicou a transcrição do segundo processo contra José Ramos, o único que mantinha na íntegra (segundo Décio afirma). E, em 1996, Freitas publicou O MAIOR CRIME DA TERRA. Mas hoje reside a suspeita de que Freitas, na realidade, criou as fontes, visto que a referida busca pelos processos contra José Ramos não deu em nada... Isso quem disse foi Narloch.
Ainda assim, Freitas também foi consultado pelo cronista esportivo e escritor David Coimbra, um dos mais populares cronistas do jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Coimbra escreveu seu primeiro romance longo, Canibais (2004), baseado no episódio.

O GRANDE TABU PORTO-ALEGRENSE
Em O MAIOR CRIME DA TERRA, Freitas inclui também considerações filosóficas sobre a natureza humana – afinal, o que teria levado José Ramos, um ex-policial, culto e algo sensível, apreciador de poesia e das óperas apresentadas no Teatro São Pedro, a matar cinco (e talvez mais) pessoas inocentes, com golpes de machado na cabeça e talhos no pescoço, e depois as esquartejado e transformado seus corpos em linguiça? Freitas, evidentemente, precisou analisar os fatos à luz das teorias psicológicas, tratando dos crimes não como casos policiais em si, mas fruto de um desvio da natureza humana, de um retorno do então homem civilizado ao instinto animal que contraria preceitos bíblicos. E, mais que isso: induzindo outros homens a ferir leis divinas inconscientemente – já que a linguiça humana era muito apreciada e vendia bem.
O episódio não ficou limitado a Porto Alegre, no que diz respeito à divulgação: ele foi noticiado por um jornal francês (o título do livro faz referência ao da referida notícia, do jornal Le Temps) e foi comentado até por Charles Darwin, o pai do evolucionismo.
O episódio de comercialização de carne humana e de canibalismo involuntário ocorrido em Porto Alegre provavelmente não foi o primeiro da História, dentre tantos outros casos de canibalismo registrados na História, mas se sabe que não foi o único: um caso similar ocorreu na Alemanha, entre 1909 e 1924 – o alemão Karl Denke, da cidade de Munsterberg, comercializava salsichas feitas com a carne dos hóspedes de sua hospedaria. Tal como Ramos, Denke era um cidadão acima de qualquer suspeita, querido na cidade, principalmente pelas crianças, que o apelidaram de “papai Denke”. Estima-se que tenha feito 41 ou mais vítimas, todas de fora da cidade de Munsterberg, que também eram “aproveitadas” para fazer acessórios de couro, como sapatos e cintos! Ele se matou na cadeia no dia em que foi preso. (Fonte: Revista Mundo Estranho, edição 148, janeiro de 2014).
O fato inicial é que os crimes da Rua do Arvoredo – atualmente conhecida como Rua Fernando Machado, localizada na Cidade Baixa de Porto Alegre – assombrou a vila, então com 20 mil habitantes, naqueles anos de 1863 e 1864. A cidade, que aos poucos se urbanizava, mas que não possuía um sistema de saneamento eficiente, então convivia com a insegurança, principalmente porque estava para começar a Guerra do Paraguai (1865 – 1870); e os descendentes de portugueses viviam um conflito com os imigrantes alemães que se estabeleceram nos arredores – São Leopoldo e outras localidades do Vale dos Sinos. Conflito agravado por conta da Questão Christie, conflito diplomático entre Brasil e Inglaterra ocorrido em 1861 – um jornal publicado na Colônia Alemã se posicionou a favor da Inglaterra, o que despertou o ódio dos brasileiros contra os alemães.
Bem. José Ramos, nascido em Santa Catarina, era filho de um ex-combatente da Revolução Farroupilha (1835 – 1845), até que, um dia, ao defender a mãe das agressões do pai, o rapaz fere aquele mortalmente, e é obrigado a fugir para a então Província de São Pedro, onde atua como policial até o dia em que tenta degolar um prisioneiro célebre – Campara, o “Robin Hood dos Pampas” – de dentro da cela. Ele então passa a atuar, além da fachada da atividade de açougueiro, como informante do delegado Dario Callado, nordestino conhecido tanto pelo extremo autoritarismo como pelos casos que teve com atrizes que se apresentavam no Teatro São Pedro.
Catarina Palse, esposa de José Ramos, nascera na Transilvânia, atual Romênia, então parte do Império Alemão, e, para todos os efeitos, ela era de nacionalidade alemã; sofrera agressões ainda antes de migrar ao Brasil, e ainda viu seu primeiro marido se suicidar durante a viagem para a América. E teria sido cúmplice de Ramos: segundo a versão popular, Catarina, possuidora de estonteante beleza, atraía as vítimas para a casa onde vivia com Ramos – o número 27 da Rua do Arvoredo, casa tida como amaldiçoada – para uma inocente conversa ou sob sedução, e o homem primeiro fendia a cabeça da vítima com uma machadada; depois, degolava, como era costume desde a época da Revolução Farroupilha. Ramos, depois, esvaziava os bolsos das vítimas e se apossava de seus bens.
Já a ideia de transformar as vítimas em linguiça teria partido do então cúmplice Carlos Claussner, também alemão, e açougueiro. Segundo um posterior depoimento dado por Catarina Palse à polícia, Ramos matava as vítimas atraídas por Catarina, e Claussner se encarregava de transformar as vítimas em linguiça. Os restos mortais eram dissolvidos em ácido ou jogados no Rio Guaíba. Até aqui, Ramos teria feito cinco vítimas, talvez mais (descontando o próprio pai e algumas mortes cometidas ainda no exercício da atividade policial). Como um cúmplice involuntário, ainda havia Henrique, o corcunda, também alemão, que teve participação em algumas das mortes, ajudando a carregar os restos mortais para fora da casa no. 27.
O começo da ruína de Ramos, então um cidadão acima de qualquer suspeita, começou quando resolveu matar o cúmplice, Carlos Claussner, em setembro de 1863, após um desentendimento em que o açougueiro ameaçou entregar o linguiceiro à polícia. Mas Ramos só foi preso depois de ter feito três outras vítimas, mas as quais resolveu apenas desovar os corpos em um poço no quintal da casa: o comerciante português Januário, o caixeiro deste, então menino, e um cachorro, pertencente ao menino, que teve de ser morto porque latia em frente à casa onde o dono desaparecera. Os três foram mortos em 15 de abril de 1864, mais de sete meses depois da morte de Claussner.
O primeiro dos três processos contra Ramos, instaurados a partir de sua prisão em abril de 1864, referia-se à morte de Januário e seu caixeiro; o segundo processo era referente à morte de Claussner; e o terceiro, aos crimes da “linguiça humana”. Estes só vieram à tona em agosto de 1868, quando, após muita insistência de Catarina, que também fora presa, em falar com o delegado, e após ter apresentado um caderno com sua confissão a Dario Callado, a mulher de Ramos depõe na polícia e revela os crimes do marido, que vai a novo julgamento. Negando tudo, claro, mas desmascarado por novas testemunhas.
Catarina é libertada em 1877 após cumprir pena, desaparece de Porto Alegre até 1883 – há notícias que ela tenha se juntado à seita dos muckers, liderada por Jacobina Maurer, em São Leopoldo (aliás, no depoimento a Dario Callado, Catarina se declarou mucker) – e morreu em 1891. Já Ramos conseguiu, não se sabe como, ter sua pena de morte suspensa e substituída por prisão perpétua, e vive como um prisioneiro privilegiado, até morrer, em 1893, leproso, na Santa Casa de Porto Alegre.
Por pouco, o episódio não põe mais lenha no conflito entre brasileiros e alemães em Porto Alegre, ainda mais que envolvia alemães, vistos como gente pouco confiável. E, por muitos anos, não se comeu mais linguiça em Porto Alegre. Começaria, desse modo, o tabu que supostamente atrapalhou o trabalho de Décio Freitas.
A partir desse episódio, Freitas também promove um exercício de micro-história, fazendo também a reconstituição de aspectos da Porto Alegre do século XIX. Ele começa a narrar a história a partir dos últimos assassinatos, criando, dessa forma, algum suspense para os leitores. Alguns trechos foram puro recurso de ficção, como o que Ramos conta a Catarina um sonho que teve, em que seria enforcado. Freitas até contesta a suposta beleza de Catarina Palse.
Sendo pouco confiável ou não, O MAIOR CRIME DA TERRA é a melhor fonte que temos sobre o crime que chocou Porto Alegre – e sabe-se lá se, depois do romance de David Coimbra, eles já aceitam o fato melhor que antes.

Esta resenha é uma versão revista e com alterações do texto publicado anteriormente no blog Estúdio Rafelipe (https://estudiorafelipe.blogspot.com.br/). Aproveitem e conheçam.
O presente livro está disponível na Biblioteca Pública Municipal Theobaldo Paim Borges. Se houver dificuldades para encontrar, perguntem a uma das bibliotecárias, que poderão lhe auxiliar.
Em breve, uma nova resenha de livro para os leitores. Não deixe de frequentar a Biblioteca!

Até mais!

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Como fazer uma estante usando um livro

 A dica de hoje é como fazer uma estante flutuante usando um livro, assista o vídeo e faça a sua.

Fonte: Canal Manual do Mundo