sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Romance "A Apelação de Sócrates", obra do professor Décio Osmar Bombassaro transita pela literatura, a filosofia e a história

Gosto pela leitura vem desde os cinco anos, e biblioteca do autor acumula obras que servem de bagagem a seus escritosFoto: Roni Rigon / Agencia RBS
Certo domingo, muitos anos atrás, um menino de cinco anos parou atrás do pai, que lia o jornal, e começou a soletrar o título da matéria estampada na página. Embora ainda não fosse à escola, o pequeno Décio Osmar Bombassaro havia aprendido a ler ouvindo, enquanto brincava, as aulas de reforço que a prima Lea Tomasi Possi ministrava em sua casa, em Caxias do Sul. 

Daquele domingo até agora, passaram-se mais de sete décadas, mas a paixão de Bombassaro pelas letras só cresceu. Com formação nas áreas de Letras, Filosofia e História, sua biblioteca mescla obras sobre a civilização grega e vários volumes de filosofia à ficção de Edgar Allan Poe, Oscar Wilde, Cervantes, Shakespeare, Dante Alighieri, Júlio Verne, Guy de Maupassant e Proust, entre inúmeros outros autores.

— Sempre li muito, isso abre a imaginação — conta Bombassaro, 78 anos, que autografa neste sábado o seu primeiro romance, A Apelação de Sócrates — Réplica e Tréplica do Absurdo (AMZ, 160págs., R$ 35).

Assim como os livros nas estantes do apartamento e sua própria formação acadêmica, também o romance (ou novela, como ele prefere) mescla filosofia, história e literatura, áreas com as quais "o espírito se agiganta", na concepção do autor. A trama perpassa dois tempos, começando nos anos 1920, num sanatório na Áustria, em que um escritor moribundo e desconhecido (mas que viria a se tornar referência nas letras mundiais) recebe a visita, nos seus últimos momentos de vida, da "sombra" de um poeta alemão do Século 18, que o leva para a Grécia antiga para testemunhar nada menos do que um novo julgamento de Sócrates, que recorreu aos deuses mais de 2 mil anos depois de ter sido condenado por seus ensinamentos.

No decorrer do julgamento, o leitor vai tendo contato com uma mescla de mitologia e razão, enquanto, na Ágora, se digladiam grandes nomes do pensamento universal, alguns defendendo, outros acusando o grande filósofo. Deuses e heróis gregos, como Apolo, Dioniso, Hefesto e Perseu, conduzem o julgamento, que conta ainda com personagens mascarados que trazem à plateia (e ao leitor) um pouco dos ensinamentos e das ideias de Platão, Hegel, Maquiavel, Cícero, Kierkegaard e Nietzsche, entre outros.

Além dessa riqueza cultural escondida sob uma história de ficção, a linguagem é uma atração à parte, com diversas palavras e expressões em outras línguas — a maioria em alemão, mas algumas em francês, italiano, latim e, claro, grego. Não há, entretanto, motivo para se assustar: a compreensão é fácil pelo contexto, e, no fim do livro, há ainda um glossário desses termos.

Uma leitura instigante, e que traduz um pouco a bagagem cultural do escritor, que foi por 32 anos professor universitário.


No romance, filósofo ganha um novo julgamento, dessa vez pelos deuses, mais de 2 mil anos após ser condenadoFoto: Roni Rigon / Agencia RBS
Outros escritos

Apesar de A Apelação de Sócrates ser seu primeiro romance, Bombassaro não é um neófito na literatura. Além de leitor e professor, ele já é autor de dois livros teóricos, Da Habilidade Humana em Perscrutar o Ente e O Pórtico de Nietzsche, de diversos artigos e também de numerosos contos premiados em concursos e publicados em antologias.O próprio livro que ele autografa neste sábado é fruto de um trabalho que vem de 30 anos atrás. 

— Em 1987, quando eu fazia o mestrado na UFRGS, participei de um curso sobre Sócrates, e precisava fazer um trabalho sobre ele. Resolvi escrever uma peça de teatro. No final do ano passado, decidi transformar aquele texto numa novela _ conta.

Foram dois meses e meio de trabalho na sua velha máquina de escrever Triumph (que ele não troca por nenhum computador) até chegar ao texto final. Antes mesmo dos autógrafos, ele segue escrevendo seus artigos, e não descarta novos voos na ficção. 

Afinal, histórias para contar ele tem de sobra.
Fonte: Artigo de Maristela Scheuer Deves - maristela.deves@pioneiro.com
http://pioneiro.clicrbs.com.br/

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