segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A Garota do Penhasco - Lucinda Riley

Sugestão de leitura:

'A Garota do Penhasco' é um romance que enreda o leitor através de vários fios: a história de Grania Ryan e sua querida Aurora Devonshire, a garota do penhasco, nos fala sobre mudança de vida.
A história das famílias Ryan e Lisle é um lindo conto sobre um século de mal-entendidos e rancor entre inimigos que se acreditam enganados por falcatruas financeiras.
O caso de amor entre Grania Ryan e Lawrence Lisle comove por sua delicadeza e força vertiginosa que culmina em imensa tristeza.
Mas, sobretudo, 'A Garota do Penhasco' é um livro que mostra como é possível encontrar uma finalidade, um propósito, quando todas as esperanças parecem perdidas.

sábado, 10 de dezembro de 2016

A Garota no Trem - Patrícia Hawkins

Sugestão de leitura que pode ser encontrada na Biblioteca Pública Municipal de Vacaria:

Todas as manhãs Rachel pega o trem das 8h04 de Ashbury para Londres. O arrastar trepidante pelos trilhos faz parte de sua rotina. O percurso, que ela conhece de cor, é um hipnotizante passeio de galpões, caixas d’água, pontes e aconchegantes casas. Em determinado trecho, o trem para no sinal vermelho. E é de lá que Rachel observa diariamente a casa de número 15. Obcecada com seus belos habitantes – a quem chama de Jess e Jason –, Rachel é capaz de descrever o que imagina ser a vida perfeita do jovem casal. Até testemunhar uma cena chocante, segundos antes de o trem dar um solavanco e seguir viagem. Poucos dias depois, ela descobre que Jess – na verdade Megan – está desaparecida.
Sem conseguir se manter alheia à situação, ela vai à polícia e conta o que viu. E acaba não só participando diretamente do desenrolar dos acontecimentos, mas também da vida de todos os envolvidos.
Uma narrativa extremamente inteligente e repleta de reviravoltas, A garota no trem é um thriller digno de Hitchcock a ser compulsivamente devorado.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Seção Resenha de Livros: OS HOMENS PRECÁRIOS

Olá.
Aqui é o Rafael Grasel novamente, com mais uma colaboração para o blog da Biblioteca Pública. Mais uma Seção Resenha de Livros.
Na última postagem, eu falei mais detalhadamente a respeito do dramaturgo gaúcho José Joaquim de Campos Leão – ou melhor, Jozé Joaqim de Qampos Leão Qorpo-Santo (1829 – 1883), que só foi reconhecido como dramaturgo, de fato, após sua morte. Para falar a respeito do criador do Teatro do Absurdo brasileiro, tomei por base um trabalho de compilação publicado em 1969, feita pelo crítico Guilhermino César.
Pois, por acaso, encontrei o segundo grande trabalho de análise da obra de Qorpo-Santo – publicado ainda no calor da hora, ou melhor, de quando a obra de Qorpo-Santo foi redescoberta, nos anos 1960 – 1970, encenada pela primeira vez, amplamente estudada.
Este, certamente, é o mais completo estudo da obra do “dramaturgo”, “poeta”, “enciclopedista”. Com vocês, OS HOMENS PRECÁRIOS, de Flávio Aguiar.

PRIMEIROS DADOS TÉCNICOS
OS HOMENS PRECÁRIOS – INOVAÇÃO E CONVENÇÃO NA DRAMATURGIA DE QORPO-SANTO apareceu, pela primeira vez, como uma Tese de Mestrado em Teoria Literária, defendida pelo autor, Flávio Wolf de Aguiar (nascido em Porto Alegre, RS, em 1947), na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), em 1974. No ano seguinte, 1975, o trabalho foi publicado na forma de livro, pela extinta editora A Nação, de Porto Alegre, em co-edição com o Instituto Estadual do Livro. Hoje, o livro se encontra esgotado, não tendo ganhado nova edição por nenhuma outra editora – hoje o livro só pode ser encontrado em alguma “poeirenta” biblioteca, ou em algum sebo.
O que é uma pena, porque o livro não é apenas a mais completa dissecção, em sua época, das peças de Qorpo-Santo; também é um modelo de análise literária – claro, apesar de sua linguagem técnica, de crítica literária, e de trechos pouco compreensíveis a quem não possui vivência acadêmica.

SOBRE O AUTOR
Bom: Flávio Aguiar ainda se encontra em atividade, como professor, jornalista, escritor e tradutor. Atualmente, mora em Berlim, na Alemanha, onde é correspondente de publicações brasileiras, impressas ou na internet. O porto-alegrense é graduado em Letras (1970) pela USP, detendo ainda os títulos de Mestre (1974) e Doutor (1979) pela mesma faculdade. Sua tese de doutorado, A Comédia Nacional no Teatro de José de Alencar, também foi publicada em livro, pela editora Ática, em 1984, e por ela ganhou o primeiro dos quatro prêmios Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, que recebeu até hoje.
Em 1982, Aguiar cumpriu programa de Pós-Doutorado na Universidade de Montreal, no Canadá. Foi professor convidado e conferencista em universidades do Brasil, Uruguai, Argentina, Canadá, Alemanha, Costa do Marfim e Cuba. Foi professor de Literatura Brasileira da USP entre 1973 e 2006, tendo orientado mais de quarenta teses e dissertações de Mestrado e Doutorado – atualmente, é professor assistente doutor aposentado pela mesma universidade. Foi editor de cultura do jornal Movimento durante o período do Regime Militar.
Casou duas vezes. Do primeiro casamento, com Iole de Freitas Druck, teve três filhas, duas netas e dois netos. Sua atual cônjuge é a professora Zinka Ziebell, da Universidade Livre de Berlim.
Flávio Aguiar tem mais de trinta livros publicados, como autor, co-autor e organizador, entre livros de crítica literária, ficção e poesia. Também foi colaborador em diversas antologias de literatura. Um de seus primeiros livros foi Sol, poemas. Além de OS HOMENS PRECÁRIOS e de A Comédia Nacional no Teatro José de Alencar, se destacam, na obra do autor: A Palavra no Purgatório: Literatura e Cultura nos Anos 70 (Boitempo, 1998); Anita (Boitempo, 1999, romance, vencedor do Prêmio Jabuti em 2000); Antônio Cândido: Pensamento e Militância (Humanitas / Fundação Perseu Abramo, 1999); Colar de Vidro e Outros Poemas (Corag / IEL, 2002, finalista do Prêmio Açorianos as Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre); e A Bíblia Segundo Beliel: Da Criação ao Fim do Mundo – Como Tudo de Fato Aconteceu e Vai Acontecer (Boitempo, 2012). Como organizador, foi responsável, entre outros trabalhos, pela compilação das peças de Nelson Rodrigues para a Editora Nova Fronteira, lançada em 2004.

RETORNO À PORTO ALEGRE SURREALISTA
Well, voltemos agora a analisar OS HOMENS PRECÁRIOS, que apareceu ainda durante a onda causada pela redescoberta dos textos de Qorpo-Santo. Na época, eram conhecidos seis dos (prováveis) nove volumes da principal obra de José Joaquim de Campos Leão Qorpo-Santo, a Ensiqlopèdia, ou Seis Mezes de Huma Enfermidade, publicada e editada pelo próprio Qorpo-Santo em 1877, que compilava todas as outras. Quando Guilhermino César organizou a primeira compilação das comédias do “maníaco escritor”, em 1969, só haviam sido localizados três volumes – os fascículos II, IV e VII. Mais ou menos na década de 1970, foram localizados mais três – os volumes I, VIII e IX – em poder da família Assis Brasil. Nos dias atuais, os fac-símiles desses seis volumes se encontram em poder da Biblioteca Central da PUCRS, de Porto Alegre, que disponibilizou a versão digitalizada desses textos na internet.
A Ensiqlopèdia era uma mistura caótica de poemas, textos de crítica, artigos do jornal A Justiça (que Qorpo-Santo editou em Porto Alegre e Alegrete entre 1868 e 1871), pensamentos, receitas culinárias... e, claro as comédias. Do conjunto até hoje resgatado pelo autor, se conhecem 16 comédias completas e uma incompleta.
Até a redescoberta das comédias de Qorpo-Santo, e de suas primeiras representações em 1966 – que foram sucesso de público e crítica (para saber mais, consultem a postagem anterior) – a obra do “maníaco escritor”, que em vida fora considerado louco, teve seus bens apreendidos, e diversas pessoas de suas relações (na visão dele) conspirando contra o então professor, jornalista, comerciante e escritor nas horas vagas, enfim, sua obra estava em “hibernação”. Qorpo-Santo era lembrado, até meados de 1950, apenas como uma figura pitoresca de Porto Alegre (sabiam que, segundo a lenda, Qorpo-Santo teria sido o pioneiro das fachadas luminosas de Porto Alegre? Ele, quando instalou a sua própria tipografia, em 1877, teria recortado na madeira de um caixote as palavras “Tipographia Qorpo-Santo”, instalado o caixote em cima da porta e colocado velas acesas dentro do mesmo para que a escrita brilhasse no escuro); exemplares da Ensiqlopèdia ficaram guardadas em coleções de bibliófilos e colecionadores de livros antigos, mais como curiosidade que necessidade de recuperação histórica; sua obra foi esnobada pelos membros do Movimento Modernista de 1922 – apesar de estar comprovado que tanto seus poemas como peças teatrais foram pioneiros em diversos aspectos. Qorpo-Santo teria, com suas peças repletas de nonsense e histeria, se adiantado aos europeus Alfred Jarry (autor da peça Ubu-Rei), Eugène Ionesco (de A Cantora Careca) e Samuel Beckett (de Esperando Godot), os “criadores” do Teatro do Absurdo na Europa.
Qorpo-Santo foi o pioneiro em usar situações burlescas, palavras sem nexo e ações sem sentido para criticar a sociedade de seu tempo. Motivos, claro, não lhe faltaram. Só perdeu a primazia para os europeus porque suas peças nunca foram encenadas em vida. No Brasil do século XIX, ainda imperavam o teatro romântico e o teatro realista, ambos de intenções moralizantes.
Qorpo-Santo teve sua maneira pessoal de criticar a burocracia estatal, a ineficiência do serviço público da época do Império, as relações familiares, os motivos para o adultério e para procurar prostitutas, as relações entre marido e mulher, a passagem do tempo... Ainda foi o pioneiro no tratamento da homossexualidade masculina no teatro brasileiro, ainda que em um breve diálogo e com final infeliz (na peça A Separação dos Dois Esposos).
Bueno. Eis como Flávio Aguiar, na introdução do texto, justifica o título de sua tese:
“Qorpo-Santo e sua obra: sobretudo, pessoa e coisa enigmáticas, a desvendar segredos solitários.
Fizeram-se, ambos, testemunho extremo da precariedade congênita em que se cria arte (cultura) numa sociedade subdesenvolvida, entregue ao disfarçado desespero da própria pobreza e à contemplação alucinatória das ‘maravilhas’ que lhe chegam do ‘Mundo’, seja do Velho, seja do Novo, que a si mesma ainda vê com distanciado espanto. Pensando, basicamente, nessa precariedade, foi que chamei este trabalho de ‘Os Homens Precários’. E tentei mostrar como Qorpo-santo, jogando com as convenções da pobreza e do maravilhamento, conseguiu transpor para o papel a possibilidade de que se compreenda, de novos ângulos, a nossa condição de cidadãos do precário ‘terceiro mundo’ cultural (e econômico).” (p. 15 – 16)
Em sua dissecção das peças e das situações sem nexo que Qorpo-Santo colocou no papel, Flávio Aguiar consegue encontrar o devido sentido, o devido propósito das ideias do “maníaco escritor”. É claro, ele contempla quase todas as peças de Qorpo-Santo – inclusive as que não foram incluídas na antologia de Guilhermino César. Ah, em tempo: Guilhermino César é responsável pelo prefácio de OS HOMENS PRECÁRIOS; e Maria Helena Martins, pelo texto de orelha.
Bão: OS HOMENS PRECÁRIOS se divide em quatro partes, sendo as duas primeiras divididas em capítulos – e todas abrem com um trecho de um soneto de Heloísa Jahn, em transcrição crescente (na primeira parte, a primeira estrofe; na segunda, a primeira e a segunda estrofes; na terceira, as três estrofes; e, no fim, o poema completo), criando uma expectativa no leitor, que no final se mostra frustrante – os desavisados pensarão que o poema das epígrafes é de Qorpo-Santo, não de outro autor.
A primeira parte, Qorpo-Santo Redevorado, com seis capítulos, tem por ponto de partida a redescoberta e as primeiras encenações das peças do “maníaco escritor”, a partir de 1966. O autor aproveita para fazer as primeiras considerações a respeito da obra de Qorpo-Santo, dando valiosas informações adicionais sobre a Ensiqlopèdia (nos dias de hoje, a internet não tem ajudado tanto quanto gostaríamos...)
Na segunda parte, Qorpo-Santo e o Redemoinho, nos dez capítulos, Flávio Aguiar disseca as peças completas de Qorpo-Santo, buscando o devido significado nas ações dos personagens, nas falas histéricas, nas críticas embutidas, anteriormente citadas.
Na terceira parte de capítulo único, Qorpo-Santo e a Engrenagem, algumas considerações a respeito do teatro da década de 1860 (que não passava por uma boa fase), as críticas a respeito (principalmente da enxurrada de comédias francesas, de qualidade duvidosa, que ameaçavam suplantar a produção nacional), e como as comédias de Qorpo-Santo se encaixam nas características do teatro do século XIX – e como seriam vistas pela crítica da época, se tivessem ganho montagem.
Na última parte, Qorpo-Santo, Precursor de Si Mesmo, as considerações finais, e as provas de que o “maníaco escritor” se adiantou aos europeus com o Teatro do Absurdo.
O livro é completo com notas e valiosos anexos: a cronologia da vida de Qorpo-Santo; uma descrição dos seis fascículos conhecidos da Ensiqlopèdia; as encenações conhecidas (até 1975) das peças de Qorpo-Santo (sabiam que foi feito, em 1971, um curta-metragem baseado em uma das comédias do autor – Eu Sou Vida; Eu Não Sou Morte?); e referências sobre a fortuna crítica (conjunto de estudos sobre a obra) de Qorpo-Santo.
Tudo bem, OS HOMENS PRECÁRIOS é direcionado mais para quem é da área da literatura brasileira. Tem trechos excessivamente técnicos, em linguagem acadêmica, e soporífera ao leitor menos instruído. Mas o público já acostumado encontrará uma leitura rápida (sério: ela passa voando em certos momentos), apesar das suas 264 páginas (sem contar capa), e o escritor demonstra preocupação com o leitor, pensando inclusive em quem não teve contato com as peças de Qorpo-Santo. É um modelo para trabalhos literários e acadêmicos – penas que, nos dias de hoje, seja difícil de encontrar. Também pesa o fato que, nas prateleiras de uma biblioteca, o livro acabe passando despercebido, a menos que o leitor já tenha encontrado uma referência a ele em outras obras. Contribui para tanto a capa, com ilustração minimalista e pouco atraente de Cecília Tavares Teixeira, e sem o subtítulo. Costuma ser assim com os livros de público específico. Teria OS HOMENS PRECÁRIOS servido como referência para Luiz Antônio de Assis Brasil escrever seu romance Cães da Província? Acredito que sim: alguns trechos descritivos de Flávio Aguiar sobre a vida de Qorpo-santo batem com trechos do romance.
Atualmente, a obra de Qorpo-Santo não é fácil de encontrar, apesar dos esforços de diversos literatos em lançar compilações das peças, ou de seus poemas. Ainda não se encontraram os volumes restantes da Ensiqlopèdia. Será que ainda existem exemplares intactos dos volumes III, V e VI? O tempo – e o interesse do público – é que vão dizer. Mas, nos tempos recentes, as pessoas parecem mais interessadas no absurdo da vida que em teatro do absurdo... ou quaisquer outras formas de teatro.

Esta postagem é uma versão revista e com alterações do texto publicado anteriormente no blog Estúdio Rafelipe (https://estudiorafelipe.blogspot.com.br/). Aproveitem e conheçam.
Este livro, como tantos outros resenhados aqui, se encontra disponível no acervo da Biblioteca Pública Municipal Theobaldo Paim Borges. Procurem e surpreendam-se.
Em breve, uma nova resenha de livros para os amantes do livro físico.

Até mais!